PEREGRINAÇÃO A NARA PARA APRECIAÇÃO DAS BELAS-ARTES

Artigo de Meishu-Sama no Jornal Eiko

Recentemente, estive na região de Nara a fim de pesquisar as belas-artes do budismo japonês. Visitei sucessivamente renomados templos e, como havia muitos pontos a apreender, falarei sobre minhas impressões de forma concisa.

As obras tinham mais de 1300 anos, remontando aos períodos Suiko, Asuka, Hakuho, Tempyo, até Konin e Fujiwara (Séc. VI a XII). Cheguei a ficar atordoado, pois, praticamente, todas as obras, podemos dizer assim, eram magníficas. Como era grande o número de obras de alta qualidade produzidas numa época tão remota e que certamente os atuais artistas não conseguiriam realizar, fiquei deveras surpreso. Entre elas, as obras de maior relevância são certamente as do Templo Horyuji, onde se encontra um grande número de obras búdicas em bronze dourado, esculturas, laca seca, argila, e, obviamente, desde minissantuários até acessórios do altar budista. Podemos dizer que as que aqui existem são todas excelentes, a ponto de ser possível afirmar que as de outros templos são bem inferiores. A famosa “Kudara Kannon” dá vontade de reverenciá-la sempre que a apreciamos. Parece que a pintura de mural que dizem que ficou pronta recentemente ainda não está em condições de ser mostrada ao público em geral. Mas como já a vi antes e a sua fotografia encontra- se exposta, posso tecer comentários.

Além do Templo Horyu-ji acima mencionado, o que me deixou deveras admirado é a imagem principal de Buda do Templo Yakushi-ji. É melhor vê-la pessoalmente do que tentar descrever com uma infinidade de palavras. Realmente, é de uma técnica divina, impossível de expressar por meio de palavras. Por melhor que seja o artista da atualidade, certamente, teria muita dificuldade em produzir e só conseguiria realizar uma pequena parte.

Além disso, podemos dizer que a maioria das obras que se encontram nos templos famosos é de qualidade, por isso, deixarei de comentar um por um, mas não seria exagero afirmar que a posição do Japão em relação à escultura de madeira é a de primeira do mundo. Os templos que visitei nesta viagem foram: Todai-ji, Yakushi-ji, Hokke-ji, Horyu-ji, Museu Nacional de Nara, Pavilhão Ho-o-do (do Templo Byodo-in), este um pouco retirado, e o Templo Ishiyamadera. A imagem de Buda do Pavilhão Ho-o-do é uma obra magnífica, representativa do período Fujiwara. Então, pensei comigo mesmo como os japoneses e os estrangeiros ficariam contentes se pudessem apreciar com facilidade todas essas numerosas obras de arte budista antigas reunidas num só local e cheguei a imaginar se isso seria ou não um grande benefício ao mesmo tempo; seríamos reconhecidos como um povo que se tem sobressaído culturalmente desde os tempos remotos. Nesse sentido, desde já, tenho a esperança de um dia construir um grande Museu de Belas-artes em Quioto e concretizar, fielmente, esse pensamento.

Abordei, de forma geral, minha recente viagem. Além disso, gostaria de falar um pouco sobre a escultura budista do período Kamakura. A escultura budista que se encontrava numa fase de fraca produção artística após o período Nara (645 - 784), repentinamente, começou a brilhar no período Kamakura. Obviamente, passaram a surgir numerosos peritos e mestres, entre eles, Unkei e Kaikei. A diferença que existe no período Nara é que a maioria das obras é escultura em madeira e houve grande progresso, principalmente no que se refere às cores. Metais foram usados para adornar a escultura e isso se tornou uma grande moda. Ainda hoje, restam em grande quantidade as obras daquela época. A habilidosa técnica merece admiração. Não cesso de admirar e fico pensando: como será que conseguiram produzir, naquela época, obras tão refinadas como essas? A escultura com detalhes em metal, considerada uma obra-prima, será exposta em breve no Museu de Belas-Artes de Hakone. Creio que qualquer pessoa ficará surpresa ao apreciá-la.

Assim, encerro o relatório geral sobre as obras de arte búdica que conheci. Porém, no início, achei que eram poucas as obras-primas de esculturas do Japão que não se relacionassem ao budismo. O único artista renomado é Hidari Jingoro (“expert” em construção e esculturas do início da era moderna). Existem muitas histórias interessantes relacionadas a essa pessoa, mas podemos dizer que são poucas as obras suas que podem ser vistas pelas pessoas em geral. A única que podemos apreciar é “Gato dormindo”, que se encontra no Santuário Toshogu, em Nikko.

 Há uma pessoa que eu gostaria de elogiar. Trata-se do escultor Sato Gengen, que ainda está vivo. Antes, ele se chamava Tyozan, depois mudou para Seizo e Gengen é o seu terceiro nome. Nesse ponto, ele é uma pessoa incomum. Acho que este ano estará completando 83 ou 84 anos de idade e sinto que ele é uma pessoa extraordinária. Gosto muito de suas obras e pretendo expor várias delas em nosso museu. Portanto, apreciando-as, poderão compreender sua magnificência.

Jornal Eiko número 156 - 14 de maio de 1952