Shodo

O Shodō (書道) é a arte da caligrafia japonesa. Traduzindo literalmente, “Sho” significa caligrafia ou escrita e “Do” caminho, ou seja, ” caminho da escrita “ ou ” caminho da caligrafia “.

É considerada uma arte e uma disciplina muito difícil de perfeccionar e é ensinada como uma matéria a mais às crianças japonesas durante a sua educação primária.

Provém da caligrafia chinesa e é praticado no estilo antigo, com um pincel, um tinteiro onde se prepara a tinta nanquim, pisa-papel e uma folha de papel de arroz. Atualmente também é possível usar um fudepen, pincel portátil com depósito de tinta.

O shodō pratica a escritura dos caracteres japoneses hiragana e katakana, assim como os caracteres kanji, os caracteres chineses. Atualmente existem calígrafos que são contratados para a elaboração de documentos importantes.

Além de exigir alta precisão e graça pelo calígrafo, cada caractere dos kanji deve ser escrito segundo uma ordem de traços específica, o que aumenta a disciplina necessária daqueles que praticam esta arte.

Para fazer um Shodo, não basta apenas esfregar o pincel no papel. Os calígrafos consideram o tamanho e equilíbrio dos traços, a escuridão ou luminosidade da tinta, a facilidade com que a tinta vai correr, a maneira de como as linhas serão quebradas e tudo isso, sem a chance de quaisquer correções posteriores.

A caligrafia japonesa é uma arte simples, mas profunda, basicamente em duas cores: preto e branco. (Mas podem ser usadas outras cores de tintas e papéis). Cada obra leva a assinatura do artista, um carimbo com seu nome chamado Hanko ou Inkan.

Tipos de Shodo

Tensho – É o estilo de escrita mais primitiva e arcaica, de onde se originou todas as outras.

Reisho – É uma simplificação do Tensho.

Kaisho - Linhas retas. Sua forma é mais quadrada e suas linhas são retas, firmes e precisas.

Gyosho – Semi cursiva. São escritas de forma rápida e as linhas são suaves e arredondadas e traços semi sequenciais. (Semi fluidos)

Sosho – Itálico. Chamada também de escrita de capim. A escrita é feita de forma impetuosa, rápida e sequencial. (Fluídos)

História do Shodō

Os principais caracteres utilizados na prática do shodō se chamam kanji (no Japão) ou hanzi (na China). Sua origem remonta ao século I em 300 a.C., durante a dinastia Yin. Entretanto, os caracteres sofreram várias modificações ao longo do tempo, sendo as principais:

  • 221 a.C. - Dinastia Shang: reforma da escrita em escala nacional.
  • 206 a.C. - 220 - Dinastia Han: simplificação do sistema escrito e a reconfiguração do shodo como arte.

Introduzidos no Japão pelo budismo no final da Dinastia Han, essa arte passou a ser mais difundida a partir do século VI.

Execução e Filosofia do Shodō

Essa arte é produzida através da escrita com o sumi (tinta preta) e um pincel, sobre papel, utilizando caracteres japoneses ou chineses. A arte da caligrafia é considerada uma metáfora para a própria vida; assim, alternam-se pinceladas fortes com outras mais delicadas, variando o efeito conforme a velocidade, a cor da tinta, a pressão sobre o papel, o intervalo entre traços e o próprio material utilizado.

Não há retoques, esboços ou correções em uma peça de shodō, pois mesmo o "borrão" ou os espaços "falhos" sobre o papel poderão ser vistos como parte de uma totalidade, desde que haja um equilíbrio natural entre os caracteres e a composição como um todo, pois é justamente na sutileza em alguns trechos e na intensidade em outros que está localizado o sentido estético do shodō.

O Mestre Jinsai e o Shodō

Além das pinturas, o Mestre Jinsai fez inúmeras caligrafias. No período final da Segunda Grande Guerra, quando os ataques aéreos se intensificaram, ele caligrafou, em letras grandes, Kamikaze ("Vento Divino"), Shinryu ("Deus Dragão") e, ainda, Komyo ("Luz Intensa"), instruindo as pessoas no sentido de que esta última fosse colocada em cima da Imagem de Kannon na hora dos bombardeios. Por isso, todos diziam que o Komyo era "para afastar bombas".

Contam-se muitos milagres obtidos através das caligrafias do Mestre Jinsai por ocasião da Segunda Guerra Mundial.

Em 1943, com a mobilização dos estudantes, Omori Shigueo, que posteriormente serviu ao lado do Mestre, foi convocado para o Exército logo após ter-se tornado fiel. Na época, formulando votos pela sobrevivência daqueles que partiam para a guerra, era costume escrever-se uma dedicatória numa Bandeira Nacional. O estudante, porém, desejando uma caligrafia do Mestre Jinsai, fez a solicitação e conseguiu que ele escrevesse, na bandeira onde figura a esfera do Sol, Hisho Fuhai ("Vencer sempre, nunca perder").

Caligrafia do Mestre Jinsai: "Komyo" ("Luz Intensa") Sinete: "Nyorai"

Passado algum tempo, ele foi transferido para o esquadrão aéreo, indo para a Ilha de Java, na Indonésia. Mais tarde, voltou para o Órgão de Serviços Especiais, e, em junho de 1945, pegou o cruzador "Ashigara", de 10.000 toneladas, rumo a Singapura, local onde executaria sua missão. Nessa oportunidade, Omori passou por uma experiência milagrosa. Atacado por torpedos, o navio afundou em apenas quinze minutos, mas ele conseguiu colocar o salva-vidas e pular na água. Na hora em que ia afundar, o cruzador soltou fogo da proa, porém as chamas não chegaram a atingir o óleo, que escorreu para a superfície do mar, e logo se apagaram. Além disso, como, naquela região, a profundidade era de apenas quarenta metros, não chegou a se formar o redemoinho que acompanha o afundamento dos navios, e, pouco depois, Omori foi salvo pelo destróier Kamikaze.

O jovem sempre tinha consigo, junto ao corpo, a bandeira com as palavras escritas pelo Mestre Jinsai. Naquele dia, entretanto, como estivesse fazendo calor e se sentisse tranquilo, por estar num navio de grande porte, casualmente ele a havia tirado, de modo que ela afundou com o cruzador. Nessa hora, Omori compreendeu que a bandeira afundara em seu lugar. Dois meses depois, quando a guerra terminou, ele entendeu que a perda que sofrera estava relacionada à derrota do Japão.

O caso que se segue aconteceu por volta de 1945, na cidade de Nagoya. Shibui Sossai foi à casa de Mizuno Eissaku, que, mais tarde, se tornou dirigente da Igreja Korin. De repente, em plena aula de aprimoramento, ouviu-se a sirene anunciadora de ataques aéreos. Controlando as pessoas presentes, que iam sair da sala apressadamente, Shibui deu instruções para que se colasse num papel a caligrafia Kamikaze, feita pelo Mestre Jinsai, a qual ele havia trazido para ali, mas ainda não estava emoldurada. Iniciado o ataque aéreo, o incêndio se propagava, chegando cada vez mais perto da casa de Mizuno. Entretanto, por milagre, as chamas se apagaram, deixando intacta apenas a quadra onde ela estava situada.

Os milagres alcançados graças às caligrafias do Mestre Jinsai não se relacionam unicamente a fatos ocorridos durante a guerra. Mesmo após o término do conflito, quando as matérias-primas e o combustível eram escassos, só de se pendurar na parede a caligrafia Shunko ("Luz da Primavera"), o recinto, misteriosamente, ficava aquecido, inclusive durante o inverno. Dizem, ainda, que, pendurando-se a caligrafia Keissui ("Ser abençoado com água") numa casa cujo poço secara, este voltava a ter água.

No início de 1946, logo depois do fim da guerra, portanto, quando a Obra Divina entrou numa nova fase, com a rápida expansão da difusão, o Mestre Jinsai começou a caligrafar mais dois tipos de Imagem da Luz Divina: Komyo Nyorai e Dai Komyo Nyorai, além de continuar pintando imagens de Kannon. Alguns meses depois, purificando com sarna, doença que o deixou acamado, ele não pôde pegar no pincel por uns tempos; no ano seguinte, porém, quando começou a se restabelecer, passou a confeccionar as Imagens da Luz Divina unicamente com letras, não pintando mais a figura de Kannon. Segundo o Mestre Jinsai nos ensina, letra é espírito e desenho é matéria, e por isso, aquela tem um nível mais elevado. Daí podermos concluir que essa modificação foi uma Providência de Deus, decorrente da expansão da Obra Divina.

"Doente, na cama,

Fico a pensar

No incalculável número

De pessoas enfermas

Que existem no mundo."

A partir dessa época, o omamori (protetor) constituído pela palavra Komyo, o qual levava o sinete Nyorai, teve esta palavra substituída por Jo ("Purificação"), com o sinete Gyo. Ao ser instituída a Igreja Kannon do Japão, em 1948, passou a ser caligrafada a palavra Hikari ("Luz"), com o sinete "I". Criaram-se também, mais dois tipos de protetor, respectivamente com as palavras Komyo ("Luz Intensa") e Dai Komyo ("Luz Muito Intensa”). Mais tarde, as palavras que constituíam as três categorias de protetor foram substituídas por Jo, Joriki ("Poder Purificador") ou Joko ("Luz Purificadora") e Dai Joriki ("Grande Poder Purificador") ou Dai Joko ("Grande Luz Purificadora"). Mas logo voltaram as palavras primitivas, ou seja, Hikari, Komyo e Dai Komyo, escritas em sentido vertical, as quais continuam até o presente. A partir de 1962, o termo omamori, da época do Mestre Jinsai, foi substituído por Ohikari ("Luz Divina"). Assim, o Ohikari usado pelos fiéis sofreu diversas modificações, traçando a sua história de acordo com a Providência de Deus nas diferentes épocas.

Certo dia, por volta de 1954, enquanto cortava o cabelo, o Mestre Jinsai disse a Saegussa Toshissaburo, seu barbeiro: "Experimente tocar minha mão." Saegussa mostrou-se muito surpreso ao tocar a mão que lhe foi estendida, pois julgava-a macia e delicada, mas via que era dura e cheia de calos. O Mestre, então, disse: “Estes calos, eu os criei segurando o pincel para caligrafar o Ohikari dos fiéis, sabe?" Ao ouvir essas palavras, o barbeiro sentiu-se profundamente comovido, pensando: "Puxa! Como ele se esforça pelos fiéis!"

Obviamente, o Mestre Jinsai colocou tanto empenho nas caligrafias e pinturas porque o Poder de Deus atuava através delas, ou seja, elas tinham um papel central na Obra Divina. Assim, durante toda a sua vida, pintou cerca de 7.000 figuras de Kannon e Nyorai e, incluindo os protetores, fez pelo menos 1 milhão de caligrafias.

Como uma máquina impressora

Em seus últimos anos de vida, como já dissemos, o Mestre Jinsai, nos dias pares, fazia caligrafias durante uma hora ou uma hora e meia após o jantar. A Casa do Trevo, em Hakone, e uma sala do Solar da Nuvem Esmeralda, em Atami, estavam destinadas a esse fim.

Assim que se sentava, com o papel à sua frente, o Mestre pegava no pincel e, num só fôlego, fazia várias caligrafias, com tanta rapidez que parecia uma máquina impressora. Certa vez ele disse, rindo: "Para uma pessoa se tornar um operário treinado assim, é preciso três anos." No caso da Imagem da Luz Divina e dos quadros - estes, escritos horizontalmente - onde eram caligrafadas letras maiores, confeccionava 100 em 30 minutos; no caso de protetor que só tinha uma palavra (Hikari), fazia de 500 a 600 em uma hora. Uma pessoa comum não conseguiria caligrafar tão rápido assim.

O Mestre Jinsai caligrafando com uma velocidade sobre-humana, ajudado por dedicantes. Ao seu lado, está colocado um rádio.

Para confeccionar muitas caligrafias em pouco tempo, o Mestre Jinsai inventou o seguinte método: preparava de antemão cem folhas de papel apropriado, intercaladas com jornal. Quando terminava de dar vigorosas pinceladas na primeira, o dedicante encarregado desse servir retirava a folha junto com o jornal, puxando-a rapidamente, em sentido lateral. Ao término dessa operação, o Mestre Jinsai já havia acabado de fazer a caligrafia seguinte. Assim, era um serviço ininterrupto, no estilo de uma corrente de motor. Para que ele fosse executado sem interrupção, sempre havia três dedicantes do sexo masculino ajudando o Mestre, fazendo-se necessário um certo período de treinamento para eles conseguirem acertar seu ritmo com o dele.

Além de escrever essa grande quantidade de caligrafias com muita facilidade, o Mestre Jinsai sempre o fazia ouvindo rádio. Às 19h, quando o trabalho tinha início, era a hora do noticiário. Às 19:30h, transmitiam-se programas com atrações musicais: os programas Niju no Tobira e Tonti Kyoshitsu. Às 20h, entre outros programas, havia a transmissão de uma peça teatral. O Mestre Jinsai sempre fazia caligrafias ouvindo essas transmissões. Se escutasse, no noticiário, algo relevante, que lhe chamasse a atenção, logo pegava o lápis vermelho e anotava no papel que ficava numa bandeja. Anotava de modo sintético, escrevendo, por exemplo, "Origem da corrupção", "Problema da bomba atômica", etc., e esses dizeres serviriam de tema para os Ensinamentos que ele ditaria mais tarde.

Veja aqui as caligrafias do Mestre Jinsai!

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