Ukiyo-ê

Ukiyo-e, ukiyo-ye ou ukiyo-ê (浮世絵, “retratos do mundo flutuante”, em sentido literal, que descrevia o estilo de vida hedonista da era), vulgarmente também conhecido como estampa japonesa, é um gênero de xilogravura e pintura que prosperou no Japão entre os séculos XVII e XIX. Destinava-se inicialmente ao consumo pela classe mercante do período Edo (1603 – 1867). Entre as mais populares temáticas abordadas, estão a beleza feminina; o teatro kabuki; os lutadores de sumô; cenas históricas e lendas populares; cenas de viagem e paisagens; fauna e flora; e pornografia.

Alguns dos artistas devotaram-se à pintura, mas a maioria era composta por gravuristas. Tais indivíduos raramente talhavam seus próprios blocos de impressão. Em vez disso, a produção era dividida entre o artista, que criava a obra; o talhador, que gravava a arte nos blocos; o impressor, que pintava e prensava os blocos nos washis; e o publicador, que financiava, promovia e distribuía os trabalhos. Por ser uma atividade artesanal, gravuristas podiam dominar e empregar uma grande variedade de efeitos a partir de diferentes técnicas impraticáveis na produção mecanizada, como a criação de gradações de cor, por exemplo.

“A Grande Onda de Kanagawa”, da série “As Trinta e Seis Vistas do Monte Fuji”, de Hokusai

As Cinquenta e Três Estações de Tokaido

As Cinquenta e Três Estações de Tokaido (em japonês: Tokaido Gojusantsugi) é uma série de ukiyo-e criada por Ando Hiroshige[1].

A Tokaido era uma das cinco rotas de Edo (atual Tóquio) construída na época de Ieyasu Tokugawa, uma série de estradas que ligava Edo ao resto do Japão. A estrada de Tokaido ligava Edo à então capital Kyoto e ao longo desta estrada encontravam-se cinquenta e três estações de correio, onde se encontravam estábulos, alojamento e comida para os viajantes.

Hiroshige e a Tokaido

Hiroshige percorreu a Tokaido em 1832, integrado numa delegação oficial que transportava cavalos para serem entregues à corte imperial, uma oferta anual do shogun em reconhecimento do estatuto divino do imperador.

As paisagens que observou ao longo da jornada impressionaram profundamente o artista, tendo criado numerosos esboços durante a viagem, bem como quando do regresso. Após tornar à casa, Hiroshige começou imediatamente a trabalhar nas primeiras telas de “As Cinquenta e Três Estações de Tokaido”, acabando por produzir um total de cinquenta e seis telas para compor a série: uma para cada estação, mais uma para o local de início (na verdade duas, pois foram feitas duas edições) e outra para o término.

A primeira obra da série foi publicada conjuntamente pelas casas Hoeido e Senkakudo, com a primeira a tratar de todas as seguintes edições sozinha. Este estilo de blocos de madeira eram comumente vendidos por doze a dezesseis moedas de cobre cada, aproximadamente o mesmo preço que uma tigela de sopa ou umas sandálias de palha. O sucesso de “As Cinquenta e Três Estações de Tokaido” afirmou Hiroshige como o mais proeminente e bem-sucedido criador de ukiyo-e da Era Tokugawa.

Hiroshige prosseguiu esta série com “As Sessenta e Nove Estações da Kiso Kaido” em colaboração com Eisen Keisai, documentando cada uma das estações de correio da Nakasendo (que também se denominava de Kiso Kaido).

O Mestre Jinsai e as exposições de ukyo-e

Com a grande melhoria da coleção de obras de arte, as exposições passaram a ser realizadas com maior diligência. No dia 1º de abril de 1953 foi inaugurada uma exposição de artesanato da China, Coreia, Índia, Pérsia, Grécia e Egito. Para ampliar a escala das exposições, o Mestre Jinsai construiu um prédio anexo, atrás da Casa do Trevo. Em junho de 1953, foram expostas, nesse local, obras de ukiyo-e da Era Momoyama até a época contemporânea. Contando com a colaboração não só do Museu Histórico Nacional de Tóquio, que cedeu nove obras de seu acervo, mas também do Jornal Mainiti e do Jornal Tokyo Hibi, essa exposição granjeou as atenções do mundo das belas-artes, pela boa qualidade do seu conteúdo, sendo noticiada em inúmeros jornais. Em abril de 1954, o Mestre Jinsai promoveu uma exposição de famosas pinturas ukiyo-e na matriz da Loja Mitsukoshi, em Tóquio, e em maio, na filial dessa loja na cidade de Saporo, no Estado de Hokaido, uma exposição de famosas xilogravuras, também ukiyo-e.

O Mestre Jinsai e a obra “As Cinquenta e Três Estações de Tokaido”

Sobre a famosa série de xilogravura de Ando Hiroshige, “As Cinquenta e Três Estações de Tokaido”, também se conta um milagre. Tudo começou quando Honda, comerciante e especialista em xilogravuras, trouxe uma obra de Hiroshige. O Mestre Jinsai, que há muito tempo desejava adquirir a série mencionada, disse-lhe que, se ele conseguisse a sua primeira impressão, feita pela Editora Hoei, ficaria com ela na hora. Entretanto, não eram xilogravuras que se pudessem encontrar facilmente, pois os seus apreciadores não se desfaziam delas com facilidade. Caso se tratasse de reimpressões, talvez fosse possível consegui-las, mas, tratando-se da primeira impressão, era preciso esperar pela sorte.

[1] Artista de “ukiyo-e” do período final da Era Edo. Abriu um novo campo na xilogravura: a representação de paisagens.

Primeira impressão, feita pela Editora Hoei-Do, da xilogravura “A vila de Hakone”, incluída na série “As Cinquenta e Três Estações de Tokaido”, da autoria de Ando Hiroshige.

De fato, o próprio Honda, que negociava com xilogravuras há quase quarenta anos, nunca tinha encontrado alguém que quisesse vender aquela série. Sendo assim, ele disse com amargura: “É a primeira impressão…” e foi embora. Entretanto, exatamente na noite desse dia, alguém lhe trouxe o que o Mestre Jinsai desejava. Acrescente-se que essa pessoa trabalhava com móveis antigos, sendo, portanto, completamente alheia à arte de ukiyo-e. Honda ficou perplexo com a grande coincidência e, no dia seguinte, mais que depressa, foi levar as xilogravuras ao Mestre Jinsai.

Nas palavras Dele mesmo:

“A esse respeito, ocorreu um fato interessante. Eu estava querendo adquirir a famosa xilogravura “As Cinquenta e Três Estações de Tokaido (Tokaido Gojusantsugui)”, de Hiroshige, quando me apareceu um vendedor especializado em xilogravuras, que me ofereceu algumas obras desse artista. Eu lhe disse que, se fosse a impressão original da “Gojusantsugui”, eu a compraria a qualquer hora. Qual não foi o meu espanto quando, no dia seguinte, ele a trouxe para mim, dizendo: “Não há nada mais misterioso. Ontem, assim que voltei para casa, uma pessoa me levou exatamente o que o senhor queria. Fiquei surpreso, pois estava à procura dessa obra há mais de quarenta anos, e, justamente ontem, apareceu alguém para vendê-la. Não consigo entender!

É claro que eu também exultei com o grandioso milagre. Examinando atentamente, vi ser, de fato, a obra original, que estava sendo guardada por um lorde feudal. Percebi, inclusive, que a encadernação parecia ter sido feita por um ancestral seu; por isso, fiquei duplamente maravilhado em poder adquiri-la. Além disso, o preço era muito baixo, o que me deixou mais contente ainda.”

Porque as obras-primas chegaram às minhas mãos

Jornal Eiko nº 77

8 de outubro de 1952

Leia aqui o texto do Mestre Jinsai “Introdução à Xilogravura Ukyo-e – Prefácio”

Leia aqui a entrevista do Mestre Jinsai com o Dr. Tetsuzo Tanikawa, Diretor do Departamento de Letras, da Universidade Hosei, e crítico de Arte

Veja abaixo as imagens das Cinquenta e Três Estações de Tokaido, de Ando Hiroshige!


As Trinta e Seis Vistas do Monte Fuji

36 vistas do monte Fuji (em japonês 富嶽三十六景, Fugaku Sanjū-Rokkei) é, apesar do nome, uma série de quarenta e seis gravuras em madeira (dez das quais adicionadas após a publicação), datadas de 1832, criadas pelo artista japonês de ukiyo-e Katsushika Hokusai (1760–1849) retratando o Monte Fuji em diferentes estações do ano, de diferentes locais, mais ou menos distantes, e com diferentes condições do tempo.

Hokusai criou o Trinta e Seis Vistas tanto como resposta às suas viagens quanto como parte de sua obsessão pessoal pelo Monte Fuji. Foi desta série, especificamente, que vieram as obras A Grande Onda e Fuji em Tempo Claro, que garantiram uma considerável fama de Hokusai dentro do território japonês e também fora dele. Como o historiador Richard Lane concluiu, “Na verdade, se há uma obra que fez o nome de Hokusai, tanto no Japão quanto no exterior, ela deve ser uma pintura desta série monumental…”. Embora as obras de Hokusai anteriores a estas séries sejam certamente importantes, não foi até esta série que ele ganhou um amplo reconhecimento e deixou um impacto duradouro no mundo da arte. Foi também  A Grande Onda que inicialmente recebeu, e continua a receber, elogios e popularidade no mundo oriental.

Leia aqui a entrevista do Mestre Jinsai com o Dr. Tetsuzo Tanikawa, Diretor do Departamento de Letras, da Universidade Hosei, e crítico de Arte, sobre as 36 Vistas de Hokusai

Veja abaixo as imagens das Trinta e Seis Vistas do Monte Fuji, de Hokusai!

 

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