ENTREVISTA DE MEISHU SAMA COM O DR. TETSUZO TANIKAWA, DIRETOR DO DEPARTAMENTO DE LETRAS, DA UNIVERSIDADE HOSEI, E CRÍTICO DE ARTE, SOBRE AS 36 VISTAS DO MONTE FUJI, DE HOKUSAI

Meishu-Sama: Também não existem muitos exemplares completos desta obra. Muito embora eu ache que, ao invés de se procurar completar a série, o importante seja encontrar um bom número das melhores vistas. Afinal, não é preciso ver todas as trinta e seis.

Dr. Tanikawa: De todo o conjunto, eu gosto de verdade apenas de três vistas. Brisa de Verão em Céu Límpido e Chuva de Verão no Sopé do Monte: aquela em que o Fuji aparece enorme, com o céu encarneirado; a da neve e aquela em que há um vagalhão. Gosto destas três, o resto não me interessa.

Meishu-Sama: É um despropósito comprar aquelas em que aparecem figuras estranhas.

Dr. Tanikawa: Há uns trinta anos andei comprando algumas peças do monte Fuji: uma das melhores obras com este tema é a citada Brisa de Verão em Céu Límpido. Trata-se de uma obra mundialmente famosa, sendo excelente. É a obra-prima de toda a produção de Hokusai. A matriz também conserva-se em bom estado, não?

Meishu-Sama: Como o senhor avalia este exemplar?

Dr. Tanikawa: Muito bom. Todavia, o aspecto das nuvens é por demais denso. Falta-lhes graça. Há exemplares mais arrojados. Além do mais, o céu deveria parecer mais alto, sendo de cor mais clara. Se estivesse mais claro, as nuvens flutuariam. O tom deste vermelho, caso fosse mais acentuado, ficaria melhor. Esta Chuva de Verão no Sopé do Monte é ótima. A reprodução executada pelo Sr. Takamizawa, na Era Taisho, é perfeita: ele executou um trabalho idêntico em todos os detalhes, inclusive os defeitos. Como os especialistas tornaram-se incapazes de discernir o original, todas as peças passaram a receber a classificação de reprodução. Dentre as obras posteriores às de Harunobu, gosto destas três e da série Neve, Luar e Flores, de Hiroshige. Das obras anteriores, gosto de todas. Gosto também de Kiyonobu, Kyomasa, Sukenobu e outros. São ótimas todas as obras monocromáticas, impressas a nanquim, anteriores às coloridas (nishiki-e). Pertencem a uma fase anterior à da impressão em que de dava predominância ao vermelho (benizuri-e), tendo sido idealizadas depois das obras em preto e branco. Gosto, ainda, das peças impressas com laca, chamadas urushi-e. O mestre da modalidade benizuri-e é Toyonobu; Harunobu, do gênero nishiki-e.

Meishu-Sama: Há uma extraordinária pureza aí, não acha?

Dr. Tanikawa: São belas. Tem-se, depois, a obra de Kiyonobu. A de Utamaro também é boa, mas — como diria — o que se sente é algo já em decadência.

Meishu-Sama: Falta-lhe classe, não é?

Dr. Tanikawa: Sim. Contudo, mesmo depois de Harunobu, a obra de Sharaku é boa. Trata-se de uma existência intrigante e particular.

Meishu-Sama: A obra de Kiyonaga é boa, não acha?

Dr. Tanikawa: Eu classificaria assim: Sharaku, Utamaro e Kiyonaga. Outro dia veio parar em minhas mãos uma peça de cerâmica chinesa negra. É algo incrível. Artistas como Picasso, se a vissem, ficariam boquiabertos. Este gênero de peça foi desenterrado uma única vez, sendo, pois, conhecidos todos os exemplares existentes.

Jornal Eiko nº 212

10 de junho de 1953