CAPÍTULO 10 – AUTÓPSIA DA MEDICINA

Nos capítulos anteriores, escrevi sobre os erros da medicina em geral. Agora farei uma autópsia com uma faca bem afiada. Não é minha intenção difamar a medicina, mas simplesmente apontar os seus erros. Por isso, peço que me leiam com a mente bem aberta e despida de preconceitos.

Começaremos citando alguns fatos. O médico, por exemplo, não pode dizer com segurança qual será a evolução de uma doença. Ele pode achar que a moléstia é curável, que tais casos têm sido curados pela medicina, que determinada terapia costuma ser eficaz ou que não se conhece outro tipo de tratamento. Pode dizer ainda que a melhora dependerá de um bom regime, ou que se trata de uma enfermidade muito rara, ou, ainda que o paciente terá de ser hospitalizado, embora não possa assegurar que a hospitalização irá curá-lo. É de conhecimento médico que muitos casos evoluem de modo totalmente contrário aos prognósticos.

O exame médico inclui percussão, ausculta, medidas dos volumes respiratórios, da pressão sanguínea e de temperatura, bem como exames de sangue, radiografias, testes laboratoriais e microscópicos, etc., com a mais diversificada aparelhagem. Se a ciência médica fosse verdadeiramente científica, os médicos deveriam ser capazes de dizer com precisão, após todos esses exames, qual é o estado de um paciente. O médico, ademais, pesquisa a história da moléstia atual, bem como os antecedentes mórbidos que teve, assim como de seus genitores e familiares. Tudo isto, provavelmente, para assegurar a infalibilidade do diagnóstico. Na grande maioria dos casos, entretanto, as curas não se processam de acordo com as previsões. Seja porque houve um erro diagnóstico, seja porque a terapia foi inadequada ou por ambas as razões. A percentagem de curas autênticas dificilmente chega a dez por cento. Porque, ainda que o indivíduo pareça curado, a recuperação foi apenas temporária, trazendo-lhe constante preocupação, pois os sintomas quase sempre retornam ou aparecem sob forma de outra enfermidade. Baseado nisto é que cabe levantar dúvidas – com plena ciência também dos médicos – sobre a grande maioria das assim chamadas curas radicais.

Para exemplificar o que foi dito, consideremos o significado da expressão “o meu médico”. No caso de uma cura autêntica e definitiva pelo médico, as pessoas não precisariam consultá-lo regularmente. Se a medicina curasse verdadeiramente as enfermidades, o número de doentes decresceria gradualmente, ocasionando desemprego dos médicos e o esvaziamento dos hospitais, que teriam de fechar as portas. O que se vê, entretanto, é precisamente o contrário, A cada ano faltam mais leitos nos hospitais, enquanto o governo e instituições privadas gastam enormes somas com programas de saúde.

Obviamente, deve haver um grande erro em alguma parte da medicina atual, e causa espécie que esse erro ainda não tenha sido descoberto. É que as pessoas estão de tal modo presas à ciência materialista, que se recusam a ver outra coisa.

O próprio caráter científico dos diagnósticos é altamente duvidoso. Quando vários médicos, por exemplo, fazem o diagnóstico de um paciente, suas opiniões freqüentemente divergem. Se houvesse um padrão científico, isto não deveria ocorrer. A eficácia da medicina deveria fazer sentir-se, antes de mais nada, nas famílias dos médicos, onde deveria haver menos pessoas doentes e cujos membros deveriam ter mais saúde do que os outros. Os próprios médicos, ademais, deveriam ter maior longevidade. E, no entanto, as famílias dos médicos não são mais saudáveis. Muitas vezes, ao contrário, são ainda mais doentes. Compreende-se que um paciente possa ser desenganado por um médico por tê-lo procurado tardiamente. Mas como compreender que isto também ocorra com um membro da família do próprio médico, o qual, naturalmente, possui todos os elementos diagnósticos e terapêuticos para evitá-lo? Acrescente-se que, pelo bom senso, quando alguém da família de um médico adoece, ele mesmo, na qualidade de pai ou marido da paciente, deveria incumbir-se diretamente do diagnóstico e do tratamento, em lugar de confiá-la aos seus colegas. A esse respeito, muitas vezes ouço dizer que, quando se trata de seus próprios familiares, o médico fica tolhido pelo envolvimento afetivo, dificultando-lhe o diagnóstico. Isto significa que o diagnóstico não tem base científica, em muito contribuindo as pressuposições e conjeturas.

Um médico contou-me certa vez que é muito difícil saber acertadamente qual o mal de um paciente. Nos grandes hospitais – acrescentou – os resultados das autópsias, em muitos casos, divergem do diagnóstico. A terapêutica medicamentosa por ele prescrita, ademais, nem sempre tinha o efeito previsto. Em lugar de produzir a cura, freqüentemente agravava o estado do paciente, às vezes colocando sua vida em risco. “Nesses casos – confessou-me – muitas vezes perco o sono, pensando como vou explicar a situação ao paciente e aos seus familiares. Este é um dos nossos tormentos“.

O fato é que, a despeito dos grandes progressos da medicina, em muitos casos ainda se verificam discrepâncias entre os diagnósticos e os resultados. Por isso, alguns médicos, especialmente os mais maduros e experimentados, não confiam muito nesses tratamentos e recorrem à psicoterapia. O Dr. Tatsukichi Irisawa, que foi médico do imperador, escreveu um poema waka em seu leito de morte:

 

Não creio que esta droga

eficácia possa ter.

Julgo-me, contudo, no dever de tomar

o que a outros prescrevi.

Há um médico, íntimo amigo meu, que muitas vezes me procura quando ele mesmo adoece ou quando não consegue curar algum de seus familiares. E ficam contentes, porque eu os curo imediatamente.

Certa vez, tratei de um persistente caso de nevralgia. O paciente, além de médico renomado, era professor de medicina. Curei-o e também à sua filha, que tinha tuberculose, em pouco tempo. Sua esposa ficou tão impressionada, que insistiu para que ele abandonasse a medicina e adotasse o nosso método terapêutico. Mas, devido à sua posição social, prestígio profissional e por razões econômicas, ele não se decidiu a fazê-lo e continua a exercer a medicina.

Há outro caso interessante. Há cerca de dez anos, pediram-me que tratasse da esposa de um grande industrial. Ela sofrera uma paralisia facial, ficando com o rosto tão desfigurado, que causava repulsa a quem a olhasse. Aconselhei-a a não fazer nenhuma espécie de tratamento médico. Mas, devido à insistência de sua família, encaminharam-na a um grande hospital. O médico-chefe, que era seu íntimo amigo, disse-lhe durante a consulta: “Em dois anos, a sua moléstia terá uma cura natural. Por isso, não faça eletroterapia nem qualquer outro tratamento do gênero, mesmo que isto lhe seja recomendado neste hospital“. “Com efeito recomendaram, mas eu recusei“, respondeu ela. “Fez muito bem“, disse o médico. Ao ouvir essa história, tomei-me de admiração por aquele facultativo, que deve ser um grande terapeuta. Essa mulher foi completamente curada por mim em dois meses.

Finalmente, passarei a falar sobre os erros da medicina.