RELIGIÃO ATIVA

Os leitores poderão estranhar quando eu disser que há religiões ativas e religiões inativas. É justamente o que pretendo explicar agora.

Religião ativa é aquela que está relacionada com a vida prática, e a inativa ou morta, exatamente o oposto. Infelizmente, é raro encontrar uma religião, dentre as muitas existentes, que esteja perfeitamente entrosada com a vida prática.

As doutrinas são elaboradas com perfeição, mas não podemos esperar muito do seu poder doutrinário. No período da fundação de muitas religiões, há centenas ou milhares de anos, talvez suas doutrinas estivessem de acordo com a situação social da época, exercendo sobre ela grande influência. Sabemos, no entanto, que esse poder foi enfraquecendo com o passar do tempo, até atingir o estado em que hoje se encontra. Lamentavelmente, esta é a ordem natural das coisas; tudo sofre essa mudança, que acabou ocorrendo também no âmbito da Religião. O surto de novas religiões adaptadas à época no decorrer destes anos é um fato inegável, observado em todos os países. Mas essas religiões acabam sempre desaparecendo, por faltar-lhes poder suficiente para superar as anteriores.

Exemplifiquei as mudanças ocorridas nas religiões; agora desejo falar sobre as características das religiões modernas.

É do conhecimento geral que o desenvolvimento da Ciência, a partir do século XVIII, vem constituindo uma verdadeira ameaça para as religiões, e não se pode negar que ele tenha contribuído para a sua decadência. A Ciência dominou a tal ponto a mente humana, que o homem só aceita aquilo que tem explicação científica. O fato ainda seria desculpável, se não tivesse dado origem ao pensamento ateísta e à corrupção moral sem fim, criando confusão social e transformando este mundo num verdadeiro caos. Ainda há religiões antigas que se esforçam para doutrinar o povo com ensinamentos, os quais foram sendo aperfeiçoados após sua elaboração, centenas de anos atrás. Mas falta poder doutrinário a essas religiões, distantes da atualidade, e a carência de realismo torna sua existência equivalente à das antiguidades. Na época em que surgiram, elas foram úteis, mas hoje seu valor não vai além de uma preciosidade histórica e cultural. Dentre as novas religiões, há algumas que se aproveitam dessas preciosidades históricas adornando-as ricamente, para atrair as pessoas; mas, com certeza, terão seus dias contados.

Diante de tudo isso, é admissível que a Religião tenha ficado abandonada por muito tempo, sendo superada pelo maravilhoso progresso da cultura. Exemplificando, é como se quiséssemos usar carro de bois numa época em que nos servimos de aviões, automóveis e telégrafo. A nossa Igreja respeita a História, mas não se prende a ela, progredindo de acordo com a Vontade Divina e através dos seus próprios métodos.

As atividades relativas à obra que estamos realizando abrangem a reforma da agricultura e da medicina, apontam as falhas de todas as culturas e adotam, como princípio orientador, o ideal de uma nova civilização. Uma de suas principais realizações vem a ser a construção do protótipo do Paraíso Terrestre e do Museu de Arte. Além de servir-se dessas construções como recintos sagrados, onde os espíritos maculados e exaustos possam se sentir reconfortados, a Igreja pretende, visando o enobrecimento do caráter do homem, torná-las um baluarte contra os divertimentos fúteis e pecaminosos de hoje em dia.

De acordo com o exposto acima, a atividade da Igreja Sekai Meshiya Kyo, no plano individual, consiste em salvar o homem da pobreza e contribuir para sua saúde física e mental; no plano social, sua finalidade é construir uma sociedade sadia e pacífica. Sentimo-nos imensamente felizes ao saber que, ultimamente, o nosso trabalho está sendo reconhecido pelos eruditos e tornando-se alvo de suas atenções. Embora, no momento, seja uma obra insignificante, no dia em que ela for ampliada e difundida no mundo inteiro, surgirá em todos os países a idéia de um mundo ideal, repleto de paz e felicidade. Afianço que isso não é um sonho.

Que vem a ser, portanto, uma religião ativa, viva, senão a nossa, com todos esses exemplos? Infelizmente, a sociedade atual olha as novas religiões com indiferença e desprezo, e isso se acentua principalmente na classe dos intelectuais, que assumem uma atitude cautelosa perante o povo, mesmo quando se referem à nossa Igreja. Entretanto, eu compreendo perfeitamente a razão dessa atitude. As religiões antigas geralmente contam com espantoso número de adeptos, mas estes, na maioria, são pessoas de pouca cultura. Entre as religiões novas, há algumas que não despertam nenhum interesse, devido às suas palavras e práticas excêntricas; outras possuem elementos supersticiosos em grande proporção, que o bom senso nos leva a repelir. Creio que isso não durará por muito tempo, mas desejo que os responsáveis por essas religiões usem de reflexão.

Há, também, teólogos que, para adaptá-las à época, reproduzem e vestem de uma nova roupagem as doutrinas dos antigos santos, sábios e mestres. Isso confere a elas uma aparência progressista e de fácil aceitação pela classe intelectual, mas resta dúvida quanto à sua validade em relação à vida prática.

O assunto me faz recordar o pragmatismo de William James, o famoso filósofo americano. Essa doutrina filosófica preconiza a “filosofia em ação”, e eu pretendo estendê-la também à Religião, isto é, a Religião deve ser prática e ativa.

4 de novembro de 1953