GYAKUTÊ, A LEI DA INVERSÃO

Seria ótimo se diante dos vários problemas com que se defronta no curso de sua vida, o ser humano encontrasse soluções adequadas para cada situação. Na verdade, porém, não é fácil encontrar a solução, mesmo que se pense muito no problema. E nesses casos é bom lembrar do Gyakutê (a Lei da Inversão).

Eu muitas vezes me utilizo da Lei da Inversão e sempre com bons resultados. Darei alguns exemplos para mostrar o que é o Gyakutê.

Certa vez, uma jovem de boa família me procurou, dizendo: “Meu pai mantém relações com uma viúva, às escondidas. Naturalmente, ninguém lá em casa sabe, nem minha mãe e nem os outros. Eu sou a única a saber, mas não posso mais ficar calada. Estou pensando em resolver a situação de uma vez por todas, contando tudo à minha mãe e ao meu irmão mais velho. Vou desmascarar meu pai. Mas antes, queria saber a sua opinião“.

O problema me pareceu bastante sério e decidi ensinar à jovem a Lei do Gyakutê, isto é, da Inversão. Aconselhei-a a não contar a ninguém o segredo de seu pai e também a nada fazer para tentar impedir essa relação. “Mesmo que você veja, faça de conta que não viu“, sugeri. “Isto causará boa impressão em seu pai e você então poderá começar a pensar num segundo plano“.

Expliquei-lhe que nas relações entre homem e mulher, quanto maiores forem os obstáculos que se interpuserem entre o casal, mais se inflama a paixão. Quando vê o seu segredo descoberto, a pessoa fica desesperada e os resultados são muitas vezes imprevisíveis, podendo até resultar em tragédia.

A jovem seguiu o meu conselho e o caso se resolveu rapidamente, de uma maneira muito melhor do que ela esperava.

Outro exemplo é a célebre história do pintor Okyo Maruyama. Um dia, Okyo dirigiu-se a um conhecido restaurante de Kyoto. Assim que entrou, percebeu que havia algo de anormal no restaurante. O proprietário mostrava-se muito preocupado. Quando Okyo perguntou o que estava acontecendo, o proprietário contou-lhe que os negócios não andavam bem ultimamente, e que estava até pensando em fechar o restaurante.

Eu tenho uma ideia“, disse Okyo. Retirou-se e voltou mais tarde trazendo o desenho de um vulto feminino: uma assombração, que parecia muito real. Imediatamente foi feita uma moldura e o quadro foi afixado no tokonoma.

 O dono do restaurante ficou ainda mais preocupado e disse: “Pensei que você fosse desenhar algo alegre para atrair a freguesia. Esse desenho vai afugentar os poucos clientes que nos restam“.

Deixe comigo – disse Okyo – e veja o resultado“.

Tal como Okyo falou, o desenho da assombração começou a ficar famoso em Kyoto. Muita gente afluiu para vê-lo e o restaurante voltou a prosperar, ainda mais do que antes.

Okyo sabia que estava empregando uma lei: quando Yang atinge o ponto máximo, muda para Yin. E quando Yin atinge o ponto máximo, transforma-se em Yang.

A maioria dos problemas com que nos defrontamos no mundo reside no fato de que não pode haver uma solução – isto é, uma situação não pode ser invertida – enquanto o problema não tiver atingido o ponto a que deve chegar. Na maioria das vezes, tenta-se mudar a direção de um evento no meio do caminho. Isto, ao contrário, só protela a solução do problema.

30 de agosto de 1950