NÃO MENOSPREZE OS CÁLCULOS

Na minha opinião, o que mais falta aos políticos japoneses são conhecimentos sobre Economia. Em síntese, são os cálculos. Entretanto, isso não acontece somente na política; em qualquer empreendimento é impossível obter êxito quando se esquecem os cálculos. E estes não dizem respeito apenas às coisas relacionadas a dinheiro. Seja qual for a circunstância, para sabermos claramente as possibilidades de lucros e prejuízos, vantagens e desvantagens, não podemos menosprezar os cálculos.

É óbvio que, segundo a teoria política da democracia, deve ser respeitada a vontade da maioria da população, mas isso é conseguido através do número de votos, e estes só podem ser obtidos através dos cálculos. Não há qualquer probabilidade de sucesso ou progresso quando se negligencia esse aspecto.

O melhor exemplo do que dizemos é a última grande guerra. Talvez haja várias causas para a derrota do Japão, mas a principal foi o pouco caso que se fez dos cálculos. Com base nestes, os japoneses não deveriam ter iniciado a guerra, mas, uma vez iniciada, ainda que por um erro, deveriam ter-lhe colocado um ponto final o mais rápido possível. Deixando-se escapar essa oportunidade, à medida que a guerra prosseguia, mais desvantajosa ficava a situação, o que se torna evidente, ao relembrarmos aquela época.

Não é apenas para o mundo atual que os cálculos têm importância; eles sempre foram importantes. Um dos principais motivos pelos quais o senhor feudal de nome Yoritomo (1147-1199) conseguiu dominar o Japão foi a grande riqueza que ele acumulou utilizando um homem hábil em descobrir minas de ouro, chamado Kanebori Kitiji. O mesmo aconteceu com Toyotomi Hideyoshi (1536-1598), que se tornou poderosíssimo graças ao ouro obtido na mina de Sado. Podemos ter ideia da quantidade de ouro e prata que ele armazenou através de uma famosa história que contam a seu respeito. Quando Hideyoshi construiu a mansão Jurakudai, convidou, para uma festa, todos os senhores feudais daquela época, aos quais deu o seguinte presente: margeou com pepitas de ouro e prata o caminho que eles teriam de percorrer, desde o portão da casa até a entrada – um percurso nada pequeno – e deixou que eles levassem as pepitas que pudessem. O mesmo ainda se poderia dizer de Ieyassu Tokugawa (1542-1616), cuja dinastia conseguiu manter-se no poder durante trezentos longos anos graças ao ouro da mina de Sado. Segundo uma famosa história, com intenção de procurar ouro por todo o país, ele se valeu do célebre descobridor de minas Okubo Iganokami, o qual descobriu a mina de ouro de Izu Oohito.

Com o passar do tempo, entretanto, o ouro da mina de Sado foi escasseando. No fim da época feudal no Japão, tendo diminuído grandemente a exploração dessa mina, surgiu a ameaça de falência econômica; consequentemente, os soldos pagos até então aos vassalos tornaram-se inconstantes, o que os levou a passar dificuldades financeiras. É indiscutível que essa foi a causa da queda do regime feudal.

Como sou religioso, qualquer pessoa poderia pensar que não me interesso por Economia. Mas isso não corresponde à realidade. Talvez pelo fato de já ter sido empresário, estou seguro de que ninguém poderia me passar para trás em matéria de cálculos. Para falar a verdade, comendo e vestindo-me humildemente, e morando num barraco, como os religiosos antigos, não me seria possível salvar o homem contemporâneo. Os tempos são outros, e os terrenos e as construções devem estar de acordo com eles. Até para construir o modelo do Paraíso Terrestre é preciso uma enorme soma de dinheiro. Por isso, é óbvio que os recursos financeiros constituem uma das bases para a expansão de nossa Igreja. Nesse aspecto, a religião mais conhecida do mundo religioso atual é a Igreja Tenri-Kyo. Seu ponto forte, todos o sabem, é a grande importância que ela sempre deu à obtenção de capital desde os tempos antigos.

Por essa variedade de exemplos, pode-se entender que, desde o governo de uma nação até um empreendimento particular, nada vai bem se desprezarmos os cálculos. A esse respeito, convém lembrar os Estados Unidos. A maioria dos poderosos políticos americanos saiu do mundo empresarial. É famoso, também, o caso do Presidente Trumann, que há vinte anos era comerciante de miudezas. Fala-se, ainda, que muitos militares poderosos foram empresários. Por isso, a principal razão de os Estados Unidos ocuparem a posição que hoje ocupam é que a maior parte de seus governantes foram empresários hábeis nos cálculos.

Em contrapartida, observando os dirigentes do Japão, vemos que quase todos se tornaram funcionários do governo logo depois que saíram das universidades, só tendo conseguido posição após longo tempo no cargo. Por isso, além de não saberem nada sobre a sociedade, não têm o menor interesse pelos cálculos. Assemelham-se a filhinhos de papai, ou a principezinhos. A melhor prova são os empreendimentos governamentais. A Ferrovia Nacional, por exemplo. Enquanto as companhias ferroviárias particulares continuam distribuindo dividendos anualmente, embora irrisórios, a Ferrovia Nacional tem um déficit de vários milhões de ienes. O mesmo acontece com a venda de cigarros: eles são vendidos a um preço exorbitante, apesar de sua má qualidade. Realmente, os governantes não passam daquilo que o povo costuma chamar de “negociantes amadores”. Por conseguinte, seria desejável que, doravante, surgissem muitos políticos que atuem ou tenham atuado na área empresarial. Esclareço que esta é a condição fundamental para a reconstrução do nosso país.

10 de setembro de 1949