MEU MÉTODO DE SAÚDE

Escreverei agora sobre o meu método de saúde.

Este ano completo sessenta e sete anos, mas tenho um vigor que supera o dos jovens. Como estou desbravando terras, subo morros constantemente e, sempre que isso acontece, sou eu quem deve diminuir a marcha, porque os jovens não têm força nos pés e não conseguem me acompanhar. Muitas vezes eles dizem: “Meishu-Sama, o senhor deve estar cansado!” Em verdade eu não estou, de modo que fico sem saber o que dizer.

Costumo dormir às duas e meia ou três da madrugada e acordo sempre às sete ou sete e meia da manhã; durmo, portanto cerca de quatro ou quatro horas e meia por dia. Em relação ao trabalho, como as pessoas íntimas bem o sabem, realizo tarefas de umas dez pessoas, e parece que os jovens se veem embaraçados por não poderem seguir meu ritmo. Quanto a isso, porém, não posso fazer outra coisa a não ser pedir-lhes que aceitem esse fato.

Tenho um método próprio para manter a saúde, mas ele é justamente o contrário do método que se adota normalmente. Por esse motivo gostaria de ensiná-lo ao maior número possível de pessoas, como ponto de referência.

Para a preservação da saúde, a medicina moderna recomenda, em primeiro lugar, que as pessoas não se excedam, que repousem bastante, alimentem-se bem, mastiguem demoradamente a comida, não usem demasiadamente a cabeça, etc. Meu método é exatamente o oposto. Em primeiro lugar, recomendo a prática de excessos porque, dessa maneira, mais saúde se terá (1). Entretanto, tenho evitado exceder-me em demasia, pois isso me é penoso. Quanto ao sono, há diferenças de acordo com a idade; na minha faixa etária, dormir quatro ou cinco horas é o bastante. Com referência à alimentação, sempre me preocupo com os excessos. Isso porque recebo tantos alimentos que procuro comer pelo menos um pouco de cada um, uma vez que essas oferendas representam o amor dos fiéis. Posso dizer, portanto, que sou um bom garfo. Para contrabalançar, costumo comer razoável quantidade de batata-doce após o desjejum; antes de dormir, como “chazuke” (2) e nunca dispenso uma tigela de “oshiruko” (3).

Entre os alimentos, existem os positivos e os negativos, e não é bom pender para um lado nem para o outro. Os negativos são os vegetais; os positivos são as carnes e peixes. A pessoa deve controlá-los, para manter o equilíbrio. Tenho observado a proporção de setenta por cento de negativo e trinta por cento de positivo pela manhã, meio a meio no almoço e setenta porcento de positivo e trinta de negativo à noite. Entre os picles japoneses também há os positivos e os negativos. Os negativos são os verdes, e os positivos, os brancos, como o nabo, por exemplo; procuro comê-los na proporção de meio a meio.

Costumo não mastigar muito, para não enfraquecer o estômago. Outra coisa: não descanso após as refeições. Quando acabo de comer, levanto-me e começo a trabalhar (4). Esse é um método de fortalecimento do estômago. Graças a ele, fiquei curado do meu problema estomacal. Também não determino a quantidade dos alimentos. Meu regime alimentar consiste em comer o que quero na hora e na quantidade que desejar. Entretanto, como na vida real não posso me dar a tais caprichos, não o tenho seguido à risca.

Outro princípio fora do comum: é bom usar a cabeça o máximo possível. Trata-se de um método para preservar a saúde, e as pessoas que o seguem gozam de longevidade. Entretanto, encher a cabeça de preocupações é prejudicial à saúde. Ela deve ser usada de modo alegre e descontraído. Nesse ponto também podemos avaliar a importância da fé. Quem tem fé, entrega as preocupações nas mãos de Deus, e, assim, a maior parte delas acaba desaparecendo. Em outras palavras, significa dividir a carga com Deus. É procedimento bastante irreverente, mas Ele fica até contente com irreverência desse tipo.

Há muito tempo faço caminhadas pelo menos uma vez por dia. Tenho feito isso mesmo em dias de chuva ou de ventania, andando o máximo que posso. Ouço frequentemente sobre pessoas idosas que se mantêm saudáveis fazendo a mesma coisa. Tomo cerca de três cálices de saquê; de cerveja, um copo. Quanto ao cigarro, é uma quantidade normal (5).

Eis o meu método de saúde. Evidentemente nem me preocupo com bactérias. Poderão achar que se trata de um procedimento um tanto descuidado, mas afirmo que este é o verdadeiro método para preservar a saúde. Qualquer pessoa que venha a praticá-lo, terá saúde garantida; jamais se tornará o tipo intelectual de rosto pálido. Assim, recomendo que o pratiquem sem temor.

(1) Excesso significa: pessoas que desfrutam de saúde, não exercitarem o corpo; aquelas que estão em repouso pós-doença e as de constituição física débil, pensarem e agirem como pessoas saudáveis.

(2) Arroz embebido em chá.

(3) Caldo doce feito à base de feijão.

(4) Não se aplica às pessoas doentes.

(5) Meishu-Sama não tragava, mas deleitava-se com a fragrância do cigarro. Fumava quatro ou cinco cigarros por dia.

Cap. X – Série “Minha Visão”

20 de abril de 1950