MINHA FORMAÇÃO ARTÍSTICA

O Museu de Belas-Artes de Shinsenkyo, em Hakone, finalmente, ficará pronto no verão do corrente ano. Pretendo escrever algo a respeito dos milagres com ele relacionados. Como digo frequentemente, desde jovem, eu gostava das artes, mas no sentido de apenas ver e apreciar, isto é, era um diletante desses encontrados amiúde por aí. Naturalmente, por não ter dinheiro, nada podia comprar; eu tão somente ia a museus, exposições ou lojas de departamentos para ver, não tendo outra alternativa a não ser contentar-me com isso. Entrementes, depois do término da guerra, meu trabalho foi gradualmente tomando o rumo da religião e, graças a tal, passei a ter acesso a uma quantia razoável de dinheiro. Ademais, pela confusão reinante no período do pós-guerra, foi possível adquirir muita coisa boa a preços módicos. Verdade, pois, é que adquiri bastante, aproveitando a ocasião. Todavia, tal compra se limitou a certo gênero de peças. É que eu não tinha tido condições financeiras a não ser para determinadas obras: pinturas de Korin e Sotatsu; cerâmica de Ninsei, Kenzan e Nabeshima; e, de resto, peças de laca maki-ê. No tocante a esta última modalidade, quando jovem, eu aprendera a técnica, tendo já executado alguns trabalhos.

Desta maneira, o número de peças ia crescendo aos poucos. Escusado dizer que, para a realização do lema alçado por esta Igreja, ou seja, a edificação do mundo da Verdade, do Bem e do Belo — o Paraíso Terrestre —, esta última acepção se fazia necessária. De fato, no tocante à Verdade e ao Bem, por se tratarem de elementos espirituais, não havia problema. O Belo, porém, é material, havendo necessidade de expressá-lo concretamente: tanto a beleza natural, como a artificial, que deve estar acompanhando aquela. Brotou-me, então, a ideia de construir um Museu de Belas-Artes, visando a tal objetivo. Acontecendo de transferir-me para Hakone, em 1944, encontrei nas cercanias um terreno bem apanhado, o qual adquiri. Logo, achei outra área ideal em Atami, adquirindo-a também. Assim, as coisas foram sucessivamente expandindo-se de forma tal, até atingirem esta concepção maravilhosa, que se pode ver. São os místicos desígnios divinos em resoluta realização. Por conseguinte, a escala do projeto cresceu: Hakone, com a conclusão da etapa final, que é o Museu de Artes, chega a um termo.

Com relação a tal empreendimento, desejo registrar alguns fatos interessantes. Como mencionei anteriormente, no que tange às belas-artes, eu não entendia senão de certas modalidades. Todavia, Deus abriu gradativamente meus olhos, providenciando-me educação artística. No período inicial de um ou dois anos, adquiri não só vários álbuns fotográficos, como vi peças e ouvi palestras de especialistas a respeito da escola Korin e cerâmica japonesa, a saber: Ninsei, Kenzan e Nabeshima, passando a ter uma visão global do assunto. No ano seguinte, ainda, desenho moderno, yamato-ê e ukiyo-ê; no seguinte, pintura monocromática da escola Higashiyama, manuscritos antigos, pinturas das dinastias Sung e Yuang; no ano seguinte, ou seja, passado, cerâmicas da China e da Coréia e pinturas budistas. Logo ao entrar o corrente, no ano novo, adquiri bibliografia e fotos variadas sobre imagens budistas, sendo que vieram mostrar-me imagens búdicas nipônicas do período inicial, de maneira que creio ser este o tema de estudo para o corrente ano.

O interessante é que, com base nas experiências pelas quais até agora passei, venho me formando em justamente um gênero por ano. Enquanto as pessoas comuns levam de vinte a trinta anos, eu consigo levar a cabo semelhante formação em, aproximadamente, um ano. Por isso, aqueles que, de início, me ministraram esse conhecimento passam, ao contrário, a serem instruídos por mim. É simplesmente estranho. Deste modo, é evidente, pelas obras a serem proximamente expostas no Museu, pela perspectiva de que abrangem um vasto número de áreas, que não haverá similares delas, nem no Japão nem no resto do mundo. Outrossim, apesar de se tratar de fato não muito notado, é surpreendente não existir no Japão um único museu de arte japonesa. Basta ver os museus de belas-artes atualmente existentes no Japão. Mesmo o Museu Nacional de Tóquio, excluindo-se a arte budista — que é esplêndida — o restante, falando sem cerimônia, é por demais fraco. O Museu Bridgestone, recentemente concluído, é especializado em Pintura ocidental; o Okura Shuko Kan, em arte chinesa; o Museu Nezu, em utensílios para a Cerimônia do Chá e bronzes chineses; o Museu Nacional de Quioto, em arte religiosa; o Yurin Kan, em arte chinesa; o Museu Sumitomo, em bronzes chineses; o Museu Hakutsuru, de Osaka, em cerâmica e bronzes chineses; o Museu Ohara, de Okayama, em arte ocidental, e assim por diante.

Quão triste, pois, é ser japonês e não ter acesso à Arte nipônica! Levando isso em consideração, no Museu de Hakone, coloquei ênfase na arte peculiar do Japão, crendo, pois, poder satisfazer a qualquer um. Conquanto sua escala seja ainda pequena, este museu viabilizará, seja como for, a redescoberta da excelência do japonês com relação à Arte, e, ao mesmo tempo, surpreenderá muito o visitante estrangeiro. Consequentemente, desempenhará um relevante papel nas diretrizes nacionais concernentes ao turismo.

Jornal Eiko, nº 140 — 20 de fevereiro de 1952

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