CAPÍTULO 39 – A TRANSIÇÃO DA NOITE PARA O DIA NO MUNDO ESPIRITUAL

Um fato importantíssimo é a grande Transição da Noite para o Dia, que ocorre no Mundo Espiritual. Ou seja, a troca da Noite pelo Dia. Todos poderão retrucar que isso é muito estranho, argumentando que a noite e o dia existem no período de vinte e quatro horas. De fato, não há a menor dúvida quanto a isso, mas a noite a que me refiro é a do grande universo. Se conseguirem entender isso, conseguirão apreender um grande Mistério, inimaginável pela inteligência humana. Com isso, entenderão também a direção do mundo daqui para frente, e poderão ter ideia de como será o futuro. 

Como disse há pouco, o mundo é constituído de três elementos: o Mundo Material, o Mundo Atmosférico e o Mundo Espiritual. Enquanto que o dia e a noite são perceptíveis no Mundo Material e no Mundo Atmosférico, ou seja, aos cinco sentidos do homem e podem ser apreendidos por aparelhos, o Dia e a Noite do Mundo Espiritual são como o nada, impossíveis de serem apreendidos. Por isso, mesmo que as pessoas leiam este texto, será difícil que nele acreditem de imediato. Eu também, caso não houvesse tomado conhecimento da existência de Deus, seria como as pessoas comuns. Mas uma vez que eu tenho essa grande missão, estou numa relação íntima e inseparável com Deus. Por isso, consigo compreender com exatidão.

De acordo com isso, tal como acontecem a noite e o dia no período de vinte e quatro horas, também no Mundo Espiritual eles existem no período de dez, cem, mil ou dez mil anos. Por conseguinte, cada transição reflete-se na humanidade e, embora isso aconteça com absoluta exatidão no Mundo Espiritual, a sua transposição para o Mundo Material tem um certo atraso inevitável. Tendo isso em mente e observando a longa história, vemos diversas modificações, pequenas, médias e grandes. Elas ocorrem devido à transição. Com isso, quero mostrar o ponto principal, relacionado à grande Transição do Mundo.

Antes de mais nada, qual é o período da grande Transição? Está previsto (1) que ela termine em 30 anos (2), iniciando em 15 de junho de 1931 e indo até o dia 15 de junho de 1961. Pensando em termos da mentalidade humana, trinta anos é um período muito longo. Entretanto, em se tratando da Providência Divina do Universo, isto não passa de um breve instante. Todavia, apesar de durar trinta anos, no Mundo Material ela avança pouco a pouco, sem uma mudança súbita. Além disso, se somarmos os períodos anterior e posterior a esses trinta anos, irão ser gastos cerca de 60 anos (3). Isso ocorre porque se necessita de um tempo para preparação e de mais um tempo para ordenar as coisas após a transição.

Conforme o exposto, o sentido dessa transição é: até hoje, estávamos no Mundo da Noite, ou seja, o mundo era dominado pela Lua. Entretanto, ele está tomando o aspecto profetizado pelos dois grandes religiosos, Sakyamuni e Jesus Cristo, de que o Mundo se tornaria Dia.

De acordo com o Livro Sagrado Budista, Sakyamuni disse: “Atingi o supremo estado de elevação espiritual aos setenta e dois anos”. Certo dia, logo após esse acontecimento, ele estava muito diferente do que sempre era, com um desânimo muito grande. Então, um de seus discípulos lhe perguntou: “Senhor, vejo que hoje estais muito tristonho, o que nunca acontece. Por acaso algo lhe preocupa? Ele respondeu de imediato: “Até agora, como trabalho de toda a minha vida, criei o budismo e vim me esforçando incansavelmente para salvar todo o povo. Mas hoje tive uma revelação inesperada do Grande Buda. De acordo com ela, à chegada de um determinado tempo, o nosso budismo se extinguirá. Por isso, fiquei muito decepcionado”. Ele disse ainda: “Descobri, através do supremo estado de elevação espiritual, que no grande número de sutras que vim divulgando até agora, há muitos erros. De agora em diante eu pregarei a verdade. Por isso, adquiram sabedoria através dela.” É certeza que os sutras escritos a partir dessa época, constituem a essência do budismo. São eles: vinte e oito volumes de hoke-kyo (o sutra de Lótus), Hoometsujin-kyo (o sutra sobre a extinção do budismo) e Miroku Shutsuguen Jooju-Kyo (o sutra sobre o advento de Maitreya). Quem descobriu esse fato foi Nitiren Shonin. Ele disse que todas as outras doutrinas religiosas eram pregadas anteriormente ao Supremo Estado de Elevação Espiritual (kenshinjitsu) de Sakyamuni, e por isso não eram a Verdade. Afirmou que só o Hoke-Kyo constituía a Verdade do Budismo; negou todas as outras religiões e, com grande ímpeto, pregou essa doutrina. Não podemos censurar impensadamente essa declaração desrespeitosa e negligente.

Analisarei, agora, o significado dos vinte e oito volumes do Hoke-Kyo. O vigésimo quinto volume deste sutra, o Kannon Fumon, contém um grande mistério. Isso porque o Hoke-Kyo é a flor da lei e, no final, é preciso fazê-la desabrochar. O local do florescimento é o Japão e a pessoa que o fez é Nitiren Shonin. Por isso, ele desfraldou o Hoke-Kyo e, enfrentando incontáveis dificuldades, divulgou-o a todo o Japão. Ele conseguiu isso por ter essa forte convicção.

Originariamente, como já disse, o budismo é o Ensinamento da Lua. É a sombra, é feminino. Deve ser por esse motivo que Sakyamuni disse: “Na verdade, sou do sexo feminino”. Shonin utilizava um método totalmente inédito. Assim que terminou o seu aprimoramento, ele entoou, em voz alta, as palavras de cinco letras: Myo-ho-ren-gue-kyo em direção ao Sol nascente, no topo do monte Kiyossumisan, de Awa, sua terra natal; a partir desse momento, empenhou-se na divulgação do Hoke-Kyo. Essa história famosa tem um significado, pois, até então, todas as seitas do budismo entoavam as seis letras da palavra sagrada: Na-mu-a-mi-da-butsu. Ora, cinco é o número do Sol e seis o número da Lua. Até então, como todos sabem, o budismo era de caráter negativo e, de repente, com o nascimento da religião Nitiren, manifestou ao máximo o caráter positivo. Passou-se a tocar tambores, enfeitar flores, entoar os sutras em voz alta, etc. Tudo era alegre. Floresceu de verdade a flor do budismo. A sociedade dizia que essa religião era a Flor do Budismo de uma só geração, porque a flor desabrocha, mas suas pétalas caem. O que significa que é favorável por uns tempos, mas não perdura muito.

Ainda há um outro mistério. É o número de 28 volumes do Hoke-Kyo. Ele expressa os 28 dias (no calendário lunar) da Lua. No vigésimo quinto há o Fumon-Bun, porque 25 vem de 5 x 5 = 25. 5 é Sol, é surgir. Por isso, significa o nascer do Sol. É, portanto, o símbolo de que no mundo budista da Lua nasceu o Sol. Ou seja, já nessa época, bem nas profundezas da Noite no Mundo Espiritual, começara a despontar uma leve luz no alvorecer.

É interessante que, em contrapartida a todas as seitas budistas que nasceram do oeste, só a religião Nitiren surgiu do leste. Além disso, o Monte Kiyossumisan do Estado de Tiba é, no Japão, a parte do extremo leste. Já falei que esse ponto contém um grande mistério no livro História dos Milagres, que escrevi há algum tempo, o qual gostaria que lessem como referência. Isto é, esse local é o primeiro ponto de origem do Mundo do Dia na Segunda dimensão do Mundo Espiritual.

Por que é preciso fazer desabrochar a flor do budismo no Japão? Isso também contém um profundo significado. Isto é, se a flor não desabrochar, o fruto não nasce. Esse fruto é o Mundo em seu estado verdadeiro, e a semente desse fruto é também a ação de Nyoirin Kannon. Como sempre digo, Kanzeon é Miroku do Sol; Amida é Miroku da Lua e Sakyamuni, Miroku da Terra. Esses três Budas são San son no Mida, os Três Sagrados Mirokus.

Assim sendo, os ensinamentos de Amida e Sakyamuni (Buda) são do período do Mundo da Noite, e Kanzeon manifesta o poder de Kannon bem no limite em que o Mundo está para se tornar Dia. Essa providência foi prometida na antiga Índia, no momento em que nasceu o budismo. A nossa Igreja iniciou a sua jornada como Nipon Kannon Kyodan, e eu também desenhei as imagens de Kannon; fiz com que elas fossem utilizadas como Imagem da Luz Divina e eu também estava constantemente acompanhado pelo espírito de Kannon, devido àquela afinidade. 

Como Sakyamuni e Amida eram Nyorai, ficando presos ao nome de Bossatsu de Kanzeon, algumas religiões consideram Kannon hierarquicamente abaixo de Amida e Sakyamuni (Buda). Sabendo do motivo acima exposto, entenderão que isso é errado. Entretanto, depois, Sua posição se elevou e Ele se tornou Komyo Nyorai. Atualmente, como os fiéis sabem, a atuação é de Komyo Nyorai.

NOTAS DO TRADUTOR
(1) está previsto: em japonês “koto ni natteiru” indica algo que está previsto ou pré-determinado.
(2) termine em 30 anos: a expressão idiomática “ichidanraku ga tsuku” indica o término de algo que poderia se prolongar. É usada, por exemplo, da seguinte maneira: “[o trabalho] Já deu por hoje, pessoal!”. Foi traduzida inadequadamente como “uma fase” ou “primeira fase” em alguns livros.
(3) 60 anos: isto é, 30 anos de transição mais 30 anos que serão gastos com preparação (até 15 de junho de 1931) e com organização (após 15 de junho de 1961).