CAPÍTULO 45 – DAIJO E SHOJO NO BUDISMO

Já escrevi que o budismo, em sua essência, é shojo. Entretanto, é preciso dizer que, mesmo no budismo, que é shojo, existem daijo e shojo. Falando mais claramente, enquanto shojo se centraliza na sua própria força, daijo se apóia na força alheia.

Entre as seitas budistas, a Zen-shuu e a Nitiren-shuu são shojo; todas as demais são daijo. Em primeiro lugar darei explicações sobre shojo. Como este se baseia na sua própria força, tem nas práticas ascéticas o elemento principal para o seu aprimoramento. Isso porque esse raciocínio é originário do bramanismo. Especialmente no caso da Zen-shuu, tal procedimento se apresenta de forma bem nítida.

Como já escrevi anteriormente, de forma minuciosa, o espírito budista pregado por Shakuson considera as práticas ascéticas brâmanes um erro e afirma que é através da recitação dos sutras que se atinge a Iluminação. Pode-se dizer que o budismo é uma religião que dá grande importância aos sutras, e é do conhecimento de todos que, por um certo período, ele dominou toda a Índia. Apesar de toda a sua influência, houve um grupo que não aderiu a ele e continuou professando o bramanismo. Naturalmente, suas convicções religiosas eram fortes, e é óbvio que continuaram trilhando o invariável caminho do ascetismo e da abstinência. O alvo da fé era Dharma, cuja ideologia tinha como essência, além do ascetismo, o estudo. O aprimoramento para alcançar a Iluminação era feito através desses dois caminhos.

Entretanto, dezenas de anos após a morte de Shakuson, surgiu uma figura proeminente no bramanismo. Foi o famoso bonzo Yuima. Ele criou a seita Zen-Shuu, cuja principal corrente é a Rinzai-Zen. Terminado o seu aprimoramento, mudou-se da Índia para o interior da China e percorreu diversas regiões, com o objetivo de difundir seus ensinamentos. No final, Yuima subiu ao famoso monte Godai-san e abriu uma academia, tornando-se o criador do taoísmo. Por conseguinte, para ser fiel à Verdade, a seita Zen-Shuu não surgiu do budismo. Ela deve ter assumido características búdicas após ser introduzida no Japão, pois, se não fosse assim, certamente haveria dificuldades para a sua difusão. Poderemos compreender tudo isso ao observar que, nos templos da Zen-Shuu, os métodos de aprimoramento e a vida diária dos monges são bastante diferentes em comparação com as demais seitas budistas. A prática da postura Zen (Zazen), baseia-se no aprimoramento de Dharma, fundador da seita. É igualmente considerado primordial, no aprimoramento, o método de perguntas e respostas, uma prática distinta de outras seitas, originária, provavelmente, das sessões de estudos. Desde antigamente, entre os monges Zen da China e do Japão, os mais estudiosos escreveram kanshi (poemas em chinês), que incluem expressões iluminadas da seita Zen-Shuu. Esses poemas que, segundo consta, eram compostos constantemente, poderiam ser chamados de kanshi-zen (poemas zen em chinês). Ainda restam muitos kanshi e caligrafias, bastante valorizados pelos apreciadores, e de preços elevados. Contemplando esses escritos em silêncio, as pessoas têm a nítida sensação de serem transportadas para outro mundo que não seja este onde vivemos, e isso lhes toca o coração, expressando bem a personalidade do autor. É algo realmente digno de profunda admiração. Entre esses monges, o mestre Engo, autor do famoso Hekiganroku, é considerado o melhor da China.

O introdutor da seita Zen-Shuu no Japão foi Kanzan Daitookokushi, monge do templo Daitoku-ji de Quioto, que sempre se destacou desde o início. Seus poemas e caligrafias são tão expressivos que podem ser considerados os melhores do Japão. Em seguida vem o monge Mugaku-Zenji, do templo Enkaku-ji, de Kamakura, cujos escritos eu aprecio especialmente. Analisando por esse ângulo, poder-se-ia dizer que esses eminentes monges da seita Zen-Shuu, ao invés de monges, são cientistas religiosos.

No Japão existem três facções da seita Zen-Shuu: Soodoo-Shuu, Rinzai-Shuu e Oobaku-Shuu. A Oobaku-Shuu é pequena, mas dizem que é a mais difundida na China.

Agora vou falar sobre a seita Nitiren-Shuu. A Nitiren-Shuu é obviamente uma seita budista shojo. Baseando-se na força própria das práticas ascéticas, assim como outras seitas shojo, não dá muita importância à Buda ou Amida, centralizando sua adoração em Nitiren Shoonin, fundador da seita. Seus adeptos se aprimoram, procurando incrementar sua própria força através das práticas ascéticas - fato conhecido por todos. Portanto, sobre esses aspectos, pode-se dizer que a Nitiren-Shuu extravasou o budismo pregado por Shakuson e recebeu influência do bramanismo. Nitiren disse: "Eu sou praticante do sutra Hokke-kyoo", mas a palavra "praticante" também é do bramanismo. Entretanto, Nitiren dá grande importância aos sutras de Shakuson. Compreende-se isso perfeitamente ao ver que ele fez dos 28 sutras que formam o Hokke-kyoo o alicerce de sua seita. Pode-se dizer que Nitiren acatou o espírito do bramanismo e aprendeu a forma com Shakuson. Além disso, a Nitiren-Shuu incentiva a mediunidade, fazendo dela um ponto importante do seu aprimoramento. Esta prática não é budista, e sim brâmane.