NOVAMENTE A RESPEITO DE BERGSON

Sinto-me dominado pelo desejo de escrever novamente sobre Henri Bergson, o famoso filósofo moderno da França, a quem já me referi anteriormente. Muitas pessoas me dirigem perguntas por não entenderem o sentido de minhas palavras, que me parecem bem simples, mas que elas acham de difícil assimilação. Embora se trate de pessoas cultas, sou obrigado a dar-lhes uma explicação minuciosa, servindo-me de exemplos, para que elas possam compreender. Nesta oportunidade, lembro-me da própria filosofia de Bergson.

A razão pela qual as pessoas não entendem coisas tão fáceis é que elas não ficam no estado do “eu do momento”, talvez por não terem conhecimento, ou melhor, consciência disso. Segundo a teoria de Bergson, mal o homem começa a ter noção do mundo à sua volta é cercado de comentários, imposições de lendas e instruções, que lhe criam uma espécie de “barreira mental”, antes de atingir a maioridade. Essa “barreira” o impede de assimilar novas teorias. Uma mente desimpedida as compreenderá com facilidade, pois tem livre arbítrio; por isso aconselhamos que a mente seja aberta como uma página em branco. Entretanto, são raros os que percebem a “barreira”.

Quem já leu o princípio de Bergson comece a ser, agora, o “eu do momento”. Este “eu do momento” refere-se à impressão instantânea, captada no momento em que se observa ou se ouve alguma coisa. É agir como uma criança, sem dar tempo para a intromissão de “barreiras”. Muitas vezes admiro certas palavras usadas pelas crianças para se certificarem de algo que um adulto lhes disse. Bergson chamou a isso de “Teoria da Intuição”. Através desta, ele também queria nos mostrar que uma observação fiel consiste em ver a coisa tal qual ela é, sem torcê-la, relacionando-a ao “eu do momento”.

Dentro de sua filosofia, Bergson emite um conceito muito interessante: “Todas as coisas se movem.” Isso significa que tudo está em contínuo movimento. Este ano, por exemplo, difere do ano passado em tudo. O mesmo podemos dizer a respeito do mundo, da sociedade e dos nossos próprios pensamentos e circunstâncias. Somos diferentes até mesmo do que fomos ontem, ou há cinco minutos atrás. Aqui, podemos aplicar o velho ditado: “Trevas a um palmo do nariz.” Assim, se aplicarmos a teoria bergsoniana ao homem, em todas as circunstâncias, notaremos o seguinte: diante de um fato, as nossas observações e pensamentos de hoje devem ser diferentes das observações e pensamentos do ano anterior.

Em sentido mais amplo, observemos a radical diferença entre o período anterior e o período posterior à guerra. É surpreendente a mudança que ocorreu em tão breve espaço de tempo. Mas a maioria dos indivíduos não consegue captar, com exatidão, a realidade atual, bloqueados pelos métodos e conceitos antigos, que eles herdaram de seus antecessores e que constituem um verdadeiro obstáculo. Classifico esses indivíduos de conservadores e antiquados, porque mantêm a mente estagnada, enquanto tudo obedece à lei do movimento perpétuo. Eles sofrem o abandono do mundo e vão ao encontro de um trágico destino.

Basta uma reflexão sobre a teoria de Bergson, para compreendermos o insucesso das religiões.

A ação de Kannon consiste em ceder às transformações constantes, acompanhando o movimento das coisas sem cometer o mínimo desvio. Essa divindade é conhecida, também, como Ooshin Miroku, encarnação da ação livre e desimpedida. Em outras palavras, ação livre em relação às coisas do mundo exterior. O nome Mugue-ko-nyorai tem o mesmo significado.

Em resumo, devemos escolher assuntos adequados para falar com as pessoas idosas, ser delicados com as senhoras, teóricos com os intelectuais e simples com o povo em geral. Devemos proceder de modo que todas as pessoas com quem conversamos possam compreender-nos e interessar-se pelo que dizemos, ouvindo-nos com prazer. Se professarem a Fé dessa maneira, poderão obter ótimos resultados.

18 de julho de 1951