SÉCULO XXI

INTRODUÇÃO

Costumam me perguntar como seria o Paraíso Terrestre a que eu sempre me refiro. A este respeito, por meio da Revelação Divina de 1926, eu pude conhecer como seria a situação do mundo daqui a um século. Pensei, diversas vezes, em escrever sobre o assunto, mas sentia que não era chegada a hora e acabei não o fazendo até hoje. Nos últimos tempos, passei a sentir que já havia chegado a hora, e é por isso que me pus a escrever. Fica por conta da imaginação do leitor se as previsões do futuro desta revelação divina se tornarão realidade ou não, mas eu tenho a convicção de que se concretizarão infalivelmente. Quero que, ao ler este artigo, o leitor tenha em mente a seguinte situação hipotética: o leitor ficou adormecido por cem anos[1] e, ao acordar, se surpreende com a tamanha transformação do mundo.

 

SÉCULO XXI

Acordei às seis horas da manhã, ao som de uma música bem baixinha, que parecia sair do travesseiro. Ela foi ficando cada vez mais alta, e, como eu não conseguia dormir, levantei-me. “Que engraçado! Um despertador acionado dentro do travesseiro!”[2] – pensei eu. Lavei o rosto e tomei a refeição matinal, uma mescla dos hábitos japoneses e ocidentais: sopa de missoshiro[3], pão de arroz[4], um pouco de peixe e carne[5], verdura, café, e encerrei com chá verde, etc.

Em primeiro lugar, olhei o jornal[6]. “Uau! Que interessante!” Na manchete da primeira página anunciava- se a eleição do Presidente Mundial. O dia da votação estava próximo. Publicavam-se os nomes e as fotos de mais de 10 candidatos de diversos países: Estados Unidos, Inglaterra, França, Alemanha, América do Sul[7], Indochina[8], Japão, União Soviética (cujo nome nessa época era outro). Estava escrito que aparentemente o candidato dos Estados Unidos era o preferido.

Na página três[9], deparei com algo inesperado: quase não existiam artigos sobre crimes. Dava-se grande destaque à parte relativa às diversões; os artigos principais versavam sobre esporte, turismo, música, belas-artes, teatro, cinema, outras artes, etc. A edição estava realmente muito bem feita. Os artigos não eram prolixos e entediantes como acontecia nos jornais do passado, mas redigidos numa linguagem simples e precisa, restringindo-se unicamente ao necessário. Assim, gastava-se pouco tempo na leitura; percebia-se que havia cuidado para não cansar o leitor.

Outra nota diferente em relação aos tempos antigos era a grande quantidade de fotos: cinquenta por cento de textos e cinquenta por cento de fotos. A página de anúncios e classificados também era muito diferente. Não havia nenhuma publicidade sobre medicamentos, e a de cosméticos era mínima. O que havia em abundância eram anúncios sobre livros, vestimentas, alimentação, moradia, maquinaria, novos produtos etc. Mesmo nestes, a parte escrita era bem reduzida, por isso eu li o jornal todo em aproximadamente quinze minutos. Terminei a leitura com muito boa disposição. E não era para menos, a sala estava bem clara, pois a janela era ampla sem nenhuma instalação de segurança. Pelo que me explicaram mais tarde, assaltantes e ladrões eram histórias do passado. Por isso, achei que, de fato, aquele era um mundo maravilhoso.

Terminada a leitura do jornal, entrei no carro para ir passear. Eu fui passear em trajes muito belos, mas fiquei surpreso com a beleza da cidade. Parecia um jardim. Engraçado é que, além dos automóveis, não se via nenhum outro tipo de veículo, o que não era de se admirar, pois os trens e os bondes trafegavam pelo subsolo; as ruas eram só para os automóveis. Além disso, estes não faziam nenhum barulho. Achando estranho, olhei bem e notei que a rua parecia estar forrada com cortiça[10]. Observando melhor, percebi tratar-se de um material elástico e bastante macio, que parecia ter sido preparado com a mistura de borracha e pó de serra. Os carros trafegavam com pneus de borracha, e existiam dispositivos para isolar o som em volta das janelas e em toda parte, não havendo, pois, motivos para poluição sonora. Além do mais, se chovia, a água se infiltrava e por isso não se formavam poças. A força motora que movimentava os carros era um minério[11] do tamanho da ponta de um dedo. Algo realmente extraordinário, porque conseguia fazer com que um carro percorresse várias dezenas de milhas. Esse minério assemelhava-se ao urânio e ao plutônio, sendo uma aplicação do princípio da desintegração do átomo. Assim que entrei no carro, vi que não havia motorista. Nem era preciso, pois bastava o passageiro segurar uma barra com uma das mãos para o carro movimentar-se[12]. É claro, porém, que algumas pessoas se davam o luxo de ter motorista.

Comecei a visita da cidade. Como era bela! Fiquei surpreendido ao ver árvores frutíferas enfileiradas entre a rua e a calçada, como acontecia antigamente com a avenca-cabelo-de-vênus e os plátanos. Havia figueiras, caquizeiros, nespereiras (ameixa amarela) e árvores mais baixas, como laranjeiras, pessegueiros e pereiras. No meio da rua existiam canteiros semelhantes aos de outrora, separando as duas mãos do trânsito; neles se enfileiravam arbustos cobertos por todo tipo de flores, e as bordas eram coloridas por infinitos tipos de flores de gramíneas. Enquanto eu passava vagarosamente por elas, às vezes chegava a mim o gostoso perfume de uma flor que não conseguia identificar.

O que eu achei mais bonito foi um desses canteiros que, em determinado bairro, possuía apenas hortênsias enfileiradas por uma extensão de uma milha. Outro, que foi quase tão bonito quanto esse, foi um caminho contínuo de dálias floridas. Existia, também, um local onde se viam cachos de uvas pendurados por cima das duas calçadas das ruas, vi também latadas de glicínias, mas que já tinham passado da época de florescer e só tinham folhas. Em diversos pontos da cidade, havia pequenas cafeterias com cadeiras enfileiradas na beira das calçadas, a fim de que os transeuntes pudessem tomar bebidas simples apreciando as flores. Havia pequenos parques públicos em todo lugar, onde as crianças brincavam alegremente. Cada bairro possuía pelo menos dois ou três destes e, por isso, a cidade também era o Paraíso das Crianças. No jardim central tinha um lago artificial bem no centro, e o interessante é que, em sua superfície, boiavam nenúfares. Todas as plantas que citei eram regadas várias vezes por dia, numa hora determinada. Havia um encanamento instalado nas bordas dos jardins: era uma faixa de cimento, com um número infinito de orifícios. Bastava abrir a torneira para que, desses orifícios, saíssem jatos d’água, como os de um chafariz, molhando todo o jardim[13].

Outro aspecto que me surpreendeu foi o tempo, que também era controlado livremente, podendo-se fazer sol ou chuva. Assim, se na manhã ou na tarde de certo dia da semana chovia, depois fazia bom tempo até determinado dia. O vento também estava controlado para soprar na proporção adequada, em dias espaçados, sendo que, de vez em quando, soprava um vento forte. Isso era inevitável, para que as árvores fortificassem suas raízes. A antiga expressão “de cinco em cinco dias ventar, de dez em dez chover”[14] deve referir-se a essa época. Naturalmente, tudo decorria do progresso da Ciência.

Nesse meu passeio pela cidade, vi algo interessante. Em diversos locais havia construções semelhantes a grandes caixas de vidro, do tamanho de uma pequena residência feita toda de vidro, onde se podiam ver vários tipos de árvores perenes e de folhas aciculares como pinheiros, cedros, ciprestes e lariços. Nessas casas conservava-se a temperatura de mais ou menos dez graus centígrados; naturalmente, cada uma era totalmente equipada com aparelhos de ar refrigerado. Eram oásis artificiais para aqueles que transitavam pelos arredores, sob o sol quente do verão. Em todos esses locais havia jovens distribuídos em diversas atividades sob a orientação de um encarregado, que tinha vasto conhecimento de botânica e fora selecionado entre os componentes da comissão de cada bairro.

Em seguida, chegamos a um bairro que tinha muitas lojas comerciais enfileiradas. Enquanto passeava de carro, eu as observava atentamente. Eram construções bem planejadas, cheias de beleza e altivez, proporcionando uma impressão muito agradável. Aliás, não se via construções de mau gosto, de cores berrantes, pequenas como caixinhas de fósforo. Todas tinham janelas bem amplas e iluminação suave. A beleza da pintura e da escultura estava aplicada ao máximo. As lojas um pouco maiores pareciam museus de artes.

Enquanto eu fazia isso e aquilo, parece que ia anoitecendo, mas não se sentia que já era noite. Aliás, não era para menos, pois no alto das ruas, em intervalos regulares, existiam postes de luz muito altos. Os raios de luz eram diferentes lâmpadas incandescentes: muito mais brancos, com um brilho surpreendente[15]. Parecia estar-se sob a luz do Sol em pleno dia, e nenhuma das cores sofria modificação.

Caros leitores, gostaria que imaginassem o aspecto da cidade que acabei de descrever. As mais diversas flores, todas abertas, exalavam um perfume agradável por toda parte, e as árvores estavam carregadas de todos os tipos de frutas. O silêncio era tão grande que não parecia estar-se numa metrópole. Que passeio agradável! Olhando as vitrines das lojas, eu tinha a impressão de estar vendo uma exposição de belas-artes. Naquela cidade, até as lojas bem grandes conseguiam suprir as suas necessidades com apenas um ou dois funcionários, visto que as mercadorias tinham os preços marcados e qualquer pessoa podia pegá-las e examiná-las. Se os fregueses ficavam satisfeitos com o preço e o folheto de explicação, depositavam o dinheiro na caixa coletora[16], colocada à entrada da loja; o embrulho era feito automaticamente por uma máquina e, de acordo com o tamanho do objeto, e com alças de barbante. Era, portanto, realmente muito fácil fazer compras.

Como sentisse fome, entrei num restaurante. Não se avistava nenhum garçom. De um lado da entrada estavam enfileirados pratos apetitosos, todos com uma identificação: A, B, C[17]… Sentei-me num lugar desocupado e, olhando para a mesa, vi que era numerada. Depois, apertei um dos botões instalados no canto. Naturalmente, apertando o botão correspondente ao número da mesa e à identificação do prato, este aparecia imediatamente[18]. Olhando com mais atenção, notei que no meio da mesa havia uma abertura mais ou menos do tamanho do prato, que por ali saía automaticamente. Assim, tudo que eu pedia subia logo em seguida. Não havia necessidade de nenhuma explicação; o serviço era muito rápido, muito agradável. Eu tinha ouvido falar que esse método já existia no século XX, mas me parecia inconcebível que estivesse tão aperfeiçoado. Obviamente, todas as bebidas saíam pela mesma abertura, mas as alcoólicas só apareciam até certo limite. Observando melhor, vi que havia mais um botão. Nele estava escrito: “Conta”. “Ah, então aperta-se esse botão…” Apertei. Imediatamente surgiu a notinha. Coloquei a quantia estipulada, e logo apareceu o recibo. Que facilidade! Fiquei satisfeito e não gastei muito tempo. Por isso, resolvi ir a um teatro[19].

A quantidade de teatros era surpreendente. Qualquer bairro os possuía em tudo quanto é lugar, e, para meu espanto, o ingresso era muito barato. Imaginando que não haveria como obter lucro algum, interpelei o gerente. Ele respondeu que todos os teatros eram administrados por milionários como obras sociais, e assim nem seria preciso cobrar ingresso. Não obstante, a construção e as instalações eram luxuosas, ostentando a maior beleza e boa qualidade. Não se permitia a entrada de espectadores além da quantidade de cadeiras, de modo que se podia assistir muito bem às apresentações.

Quando entrei, estava havendo uma exibição cinematográfica curiosíssima. Exibiram-se dois filmes produzidos por uma companhia nipo-americana – um sobre os Estados Unidos e outro sobre o Japão. O primeiro era um filme histórico que retratava o período transcorrido desde a época em que os puritanos da Inglaterra foram para os Estados Unidos e começaram a desbravar a terra, até a Guerra da Independência. O segundo mostrava um personagem que poderíamos chamar de cientista religioso[20], o qual revolucionou a medicina e teve uma vida de lutas incessantes buscando solução para o problema da doença. Ambos os filmes eram muito interessantes. Ainda houve outro espetáculo, mas este estava sendo televisionado[21]. Era uma peça teatral que estava sendo representada em algum outro teatro. Como estava exausto, voltei para casa e fui dormir. Refletindo sobre o que vira nesse dia, concluí que realmente o sonho da humanidade havia sido concretizado. Fiquei bastante comovido, achando que era a Utopia há tanto tempo idealizada por ela.

Meu espírito de pesquisa aumentou de forma irrefreável, pois eu sentia necessidade de conhecer todos os aspectos da cultura da Nova Era. Primeiramente, resolvi pesquisar com calma33. Acreditando, entretanto, que os leitores também desejam conhecer tudo sobre esse novo mundo, relatarei, pela ordem dos fatos, aquilo que fiquei sabendo.

O caso que se segue aconteceu no dia seguinte ao daquele passeio. Um amigo que estava por perto convidou-me dizendo que tinha um lugar muito interessante que eu precisava conhecer, e eu o acompanhei sem hesitar. Mais ou menos no centro de certo bairro, existia um edifício surpreendentemente suntuoso. Dirigimo-nos para lá. Nele, havia teatro, restaurante, locais de lazer etc. Eu quis saber que edifício era aquele, e meu amigo me disse que era o centro comunitário, acrescentando que todos os bairros tinham um ou dois desses centros. Em seguida ele falou que uma vez por semana os cidadãos membros daquele centro se reuniam para trocar ideias. Naturalmente avaliavam propostas para o desenvolvimento do bairro, higiene, lazer e outros setores, objetivando aumentar o bem-estar dos cidadãos.

Primeiramente nos encaminhamos ao refeitório, a refeição era excelente, a beleza e o sabor da comida, assim como das bebidas alcoólicas era muito melhor que as do século anterior. Pelo que meu amigo contou, uma vez por semana havia o “Dia da Felicidade”, em que os cidadãos membros daquele centro se reuniam e passavam momentos aprazíveis, saboreando pratos apetitosos, ouvindo música e assistindo a representações teatrais e exibições de dança. Nessa ocasião, as danças e as músicas eram apresentadas, com grande altivez, por moças de todas as famílias da cidade, as quais treinavam estas artes habitualmente. Artistas profissionais e amadores faziam apresentações conjuntas. Todas as despesas com essa e outras atividades eram custeadas pelos milionários do bairro, através de doações.

Nesse novo mundo, era surpreendente a intensidade do turismo. Nos parques nacionais, nas regiões montanhosas, nas praias e em ilhas pitorescas de várias regiões havia um grande número de visitantes, provenientes de todos os países. Consequentemente, por mais afastado que fosse um lugar, o progresso cobria todas as distâncias com trens elétricos, bondinhos aéreos, e outros meios de transporte. As ferrovias e os meios de navegação eram magníficos e luxuosos; os preços, no entanto, eram bem baratos. Chegava a ser quase de graça. E não era de se admirar, pois tudo isso também se tornava possível graças à contribuição social dos milionários. Ouvi todas essas explicações durante o intervalo para descanso, e nem preciso dizer que fiquei surpreso, não obstante tudo aquilo que já tinha visto.

 

 

MUNDO ISENTO DE MAL

Escreverei a partir de agora sobre a estrutura da sociedade, política, economia, etc. Mas antes, há uma coisa muito importante da qual o leitor precisa estar ciente. É que, até meados do século XX, o mal sempre predominava sobre o bem, mas hoje[22] a situação se inverteu, predominando o bem sobre o mal. O leitor retrucará dizendo que isso é conversa fiada. Entretanto, existe uma grande razão para essa mudança, e irei começar explicando isso.

A razão pela qual o mal predominou durante as épocas anteriores ao século XX, é que, até o mal vir à tona, demorava muito tempo. Suponhamos que haja um criminoso aqui. Mesmo que ele cometa um crime, demorava dez, vinte anos, às vezes até mais, para ser descoberto. E ele ia tendo sucesso na vida.

Como ele não é facilmente descoberto mesmo cometendo um crime, ele acha isso bom e vai cometendo mais crimes e ganhando cada vez mais status na sociedade. Então, aqueles que assistem a isso acabam procurando imitá-lo. É esta a razão do mal predominar. Para tentar evitar essa situação, tornam as leis mais rigorosas, a polícia, os tribunais, etc., lançam mão de todos os meios e instituições possíveis, mas o crime não diminui como esperado. Não apenas não diminui como também tende até a aumentar. Portanto, deve haver em algum lugar uma causa grave para isso. E eu descobri o que vem a ser essa causa. Contudo, neste momento, ao invés de deter-me a essa descoberta, vou aprofundar na mudança dos tempos.

 

POLÍTICA

Ao escrever sobre política, uma das coisas importantes é o sistema de partidos. Evidentemente, o sistema democrático utilizado no mundo de cem anos atrás serviu de referência e, após progredir gradativamente, adotou-se o sistema de classes. Em outras palavras, poderíamos chamar de democracia de classes. Em tal sociedade, as pessoas se dividem em três classes: primeira classe, segunda classe e terceira classe, e cada uma delas se divide em três níveis, totalizando nove níveis. Em termos concretos, nas reuniões e cerimônias públicas, os assentos a serem ocupados dividem-se em três níveis. Da mesma forma, a moradia, as roupas etc. também se dividem em níveis alto, médio e baixo. Todavia, diferentemente do que ocorria no século XX, não havia mais a luta de classes, em que as pessoas buscavam somente o benefício de sua própria classe e atacavam as outras. As pessoas, além de estarem satisfeitas dentro de sua própria classe, desejam a crescente felicidade e o bem-estar das demais classes. Logicamente, cada pessoa pode, por mérito, subir de classe, ou ainda, por demérito, descer de classe. O rebaixamento de classe constitui uma espécie de penalidade[23]. Os membros do congresso eleitos pela primeira classe serão os da câmara alta, os eleitos pela segunda classe serão os da câmara média e os eleitos pela terceira classe serão os da câmara baixa. O Congresso Nacional só se reúne duas vezes ao ano, na primavera e no outono, durante cerca de vinte dias. Abro parênteses aqui para acrescentar que os dias de descanso, que antigamente eram semanais, agora são a cada dez dias, ou seja, três vezes ao mês, sendo escolhido um número final — 3, 5 etc. Os descansos semanais não eram nada práticos. Principalmente entre os japoneses, devem ser poucas as pessoas que conseguem responder prontamente quando perguntado em que dia da semana estamos. Se for a cada dez dias, é facílimo de memorizar e muito prático. Deve ser por isso que a duração do trabalho do Congresso Nacional também é de vinte dias e não três semanas. Apesar de serem apenas quarenta dias ao ano de trabalho, são votados numerosos projetos, por onde pode-se ver como são eficientes. Os partidos políticos do século XX muitas vezes se opunham por se opor, relegando ao segundo plano o bem da nação e a felicidade dos cidadãos, priorizavam os interesses do seu próprio partido ao examinar os projetos, por isso havia muitas discussões inúteis e conluios. Por conseguinte, gastavam tempo tentando derrubar projetos ou adiar a votação, prolongando a duração das sessões, o que os cidadãos sempre viam com desgosto.

Quanto aos partidos políticos, geralmente, são dois grandes partidos que se alternam no poder — não digo “assumem o poder”, pois esta expressão tem uma conotação desagradável. Em suma, eles cedem o poder um ao outro harmoniosamente. Como o principal objetivo da política é aumentar o bem-estar da humanidade, eles o têm como meta única, e sequer se importam com os interesses do partido. Assim, mesmo havendo dois grandes partidos políticos, há muitos pontos coincidentes entre suas políticas, não existindo “Queda de Gabinete” como antigamente. O que acontece é a alternância de gabinetes. Evidentemente, as leis são feitas por meio da aprovação das três câmaras — alta, média e baixa, mas atualmente o número de leis é muito pequeno, não chegando nem a um décimo do que havia no século XX, e tende a diminuir a cada ano. Neste sentido, o Congresso Nacional deveria ser chamado de poder revogante e não de poder constituinte[24]. Por conseguinte, o número de repartições públicas e de funcionários públicos está diminuindo aos poucos desde que entramos neste século, e principalmente serviços públicos relativos à justiça, tais como polícia, tribunais, fóruns etc. se tornaram incomparavelmente enxutos em relação aos tempos antigos.

Agora vou falar sobre eleições gerais. Que forma mais simples de eleição! Primeiramente, os candidatos anunciam sua candidatura e o boletim de eleição é publicado. Leitor, pense como era na época do século XX: o custo da campanha era de um milhão, dois milhões de ienes[25]. Um absurdo! Necessitava-se de dezenas de pessoas, chamadas de cabos eleitorais, e se somar as despesas de condução, refeição, remuneração, cartazes, correio, impressão, etc., chega-se à soma acima. Mas nem sempre os candidatos eram ricos. Pelo contrário, muitos dos políticos tinham pouca afinidade com o dinheiro e acabavam sendo levados a angariar fundo para a campanha eleitoral por meios escusos. Isso dava origem a diversas relações espúrias, que acabavam levando-os ao tribunal. Acontece que hoje, cem anos depois, basta um anúncio no jornal, de modo que o custo não deve chegar a dez mil ienes[26], mesmo somando diversas despesas. Além disso, evita-se o desperdício de tempo dos candidatos e cabos eleitorais, contribuindo enormemente para a economia nacional.

Depois eu ouvi a explicação sobre o sistema econômico e fiquei novamente admirado. Veja que surpresa, leitor: o povo é totalmente isento de impostos! Como o povo sofreu com os impostos no século XX! Quando pensamos nisso, podemos perceber como é grande a felicidade das pessoas, mesmo considerando apenas este aspecto. Entretanto, o leitor irá perguntar: se não há imposto, como o governo consegue se manter? A pergunta é bastante pertinente, mas a explicação abaixo sobre a estrutura econômica deverá ser suficiente para tirar esta dúvida.

A estrutura econômica divide-se em dois grupos. O primeiro são as corporações formadas por grandes empresas, cujo lucro é dividido em três e distribuído da seguinte forma: uma parte vai para o governo, a outra vai constituir a renda dos capitalistas[27] e a última parte é distribuída entre os profissionais, técnicos e operários. O segundo são os médios e pequenos comerciantes e industriais que se organizam em cooperativas. O lucro deles é unificado por cooperativa e dividido em três, da mesma forma que no grupo de grandes empresas.

Manuscrito de 1948

 

[1]Existem diversas teorias a respeito de qual seria a data exata desse mundo que Meishu-Sama descreve neste Ensinamento. Muitos acreditam que seja 2026, pois seria exato “um século após a revelação de 1926”, porém, como na última linha está escrito para o “leitor se imaginar acordando dali cem anos”, é possível que a data mais provável seja cem anos após o Ensinamento ter sido escrito, ou seja, por volta de 2048. Mas, é claro, isso são apenas suposições.

[2] Atualmente já existem vários travesseiros parecidos com este. Veja aqui um exemplar.

[3] Sopa tradicional japonesa feita de pasta fermentada de soja (missô).

[4] Na época de Meishu-Sama não era comum esse tipo de pão. Será que ele já estava prevendo o problema que o glúten do trigo causaria no futuro? Veja aqui uma receita desse tipo de pão.

[5] Meishu-Sama diz que no futuro a humanidade será vegetariana. Como aqui o personagem come peixe e carne, parece que ainda vai demorar mais um pouco para isso acontecer.

[6] Interessante Meishu-Sama utilizar o verbo “olhar” ao invés de “ler” o jornal. Será que o jornal ainda será de papel?

[7] Por que será que Meishu-Sama não citou o nome de um país específico da América do Sul? Será que os países da América do Sul terão se unido em um único grande bloco? E a União Europeia, será que terá deixado de existir? Afinal, ele cita o nome dos países separadamente…

[8] Na época que Meishu-Sama estava vivo, a Indochina ainda existia. Hoje ela se separou em Camboja, Laos e Vietnã. Será que ela voltará a ser um único território? Ou será que Meishu-Sama estava se referindo a um novo bloco com Índia, China e demais países da península Indochinesa?

[9] A “página 3” era comumente dedicada às notícias policiais nos jornais japoneses.

[10] Segundo matéria da revista Superinteressante, essa tecnologia já existe na Alemanha, mas ainda é inviável economicamente. Como no futuro não haverá necessidade de gastar com saúde, segurança, exército, corrupção, etc., certamente haverá bastante dinheiro para fazer essas estradas.

[11] Esse minério possivelmente será o tório (ou thorium, em inglês). Ele é abundante na natureza e não gera lixo atômico. Pesquise na internet por: carro movido a tório.

[12] Os carros da Tesla e do Google estão evoluindo bastante nessa direção.

[13] Essa tecnologia já existe e tem até controle digital.

[14] “De cinco em cinco dias ventar, de dez em dez chover” é uma antiga expressão da língua japonesa para descrever um clima paradisíaco. Meishu-Sama a utilizou na oração Zenguen-Sanji, composta por ele.

[15] Na época de Meishu-Sama só existiam lâmpadas incandescentes. Hoje já temos uma tecnologia bem parecida com essa. São as lâmpadas led, lâmpadas de vapor metálico, etc. Contudo, Meishu-Sama, neste ensinamento, não disse que a luz vinha de novas lâmpadas. Em outro Ensinamento, ele explica que o ser humano descobrirá outra forma de produzir luz, sem precisar de lâmpadas. Já existe um cientista no Havaí que está pesquisando essa tecnologia.

[16] Pagamento de forma automática em dinheiro ou cartão já existe, no Japão, em todo o lugar.

[17] Hoje no Japão isso é bem comum. São vitrines com réplicas das comidas feitas em plástico.

[18] Essa tecnologia já existe. Veja aqui.

[19] Apesar de utilizar a palavra “teatro”, na verdade, eram locais de apresentação de cinema, teatro e outros shows

[20] Naturalmente, o citado “cientista religioso” trata-se do próprio Mestre Jinsai.

[21] Em 1948, no Japão, havia somente pesquisas a respeito da transmissão de imagens à distância. A primeira televisão japonesa foi vendida pela Sharp em janeiro de 1953.

[22] Naturalmente, este “hoje” refere-se ao tempo “daqui a cem anos”.

[23] Meishu-Sama afirma que o mal será excluído desse mundo, restando apenas delitos leves, que logo serão descobertos. Aqui é importante não confundir uma coisa: a terceira classe não é uma “classe de delinquentes”, mas sim uma “classe para iniciantes”. É como nos jogos infantis que, quando se erra, retorna-se ao início do jogo.

[24] Para melhor entendimento, ler o ensinamento: Poder revogante ou poder constituinte?

[25] Um milhão de ienes em 1948 corresponderia hoje a cerca de quatrocentos mil reais.

[26] Cerca de quatro mil reais. Certamente, toda a campanha será feita por meio da Internet, bastando aos candidatos deixarem claras suas propostas.

[27] Mesmo no Mundo de Miroku, continuarão existindo bilionários. Diminuirá muito a diferença de renda entre o operário e o presidente da fábrica. No Japão a diferença atual é em média de seis vezes, ou seja, o presidente da empresa ganha o equivalente a seis salários mínimos (da sua empresa). Contudo, continuarão existindo os multimilionários. E, pelo jeito, sua responsabilidade social também será proporcional ao tamanho da sua fortuna.

 

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