CAPÍTULO III

Meishu Sama foi muito doentio em sua juventude, porém jamais permitiu que seu luminoso espírito ficasse aprisionado no cárcere do desânimo. Era um lutador e amava a vida.

Ele tinha as orelhas muito grandes e bem feitas. No Japão, acreditam que as pessoas de orelhas bonitas são predestinadas a uma boa sorte.

Na cidade havia um comerciante muito rico que se dava com Kissaburo. O ricaço impressionou-se com a personalidade do jovem Mokiti de orelhas bem feitas. Propôs ao moço que casasse com sua filha e que se deixasse adotar como filho do ricaço. A proposta teria agradado a qualquer moço ambicioso, porém Mokiti não sonhava com esta espécie de riqueza. Respondeu ao amigo do pai:

- Não me interessa mudar meu nome de família. Além do mais, pretendo fazer-me na vida à minha própria custa. Hei de formar meu lar por meu esforço. Hei de realizar alguma coisa que valha a pena.

Os parentes de Mokiti não gostaram desta resposta, porém a opinião dos parentes não abalou a resolução do jovem, decidido e independente.

Apesar da saúde delicada, Mokiti conseguiu tornar-se financeiramente independente, nunca sendo pesado a seus pais. Nas horas de folga, estudava muito, concentrado no desejo de ser culto e equilibrado. Lia muito, os mais variados assuntos, principalmente os livros filosóficos. Não perdia conferências. Revelou-se nele, desde cedo, uma verdadeira sede de conhecimentos.

Mensalmente Mokiti dava um donativo ao Exército da Salvação, pois achava que esta instituição ajudava muito aos pobres e à sociedade.

Um dia, um general do Exército da Salvação chamado Gumpei Yamamuro perguntou:

- Por que dá uma contribuição ao Exército da Salvação se o senhor não é cristão?

Mokiti respondeu:

- O Exército da Salvação procura ajudar os pobres. Este é o motivo.

Seu amor ao próximo era ardente e vivo. Compreendeu cedo e sem influência religiosa que a Lei da Vida condena o exclusivismo e a separatividade.

Era muito bom para seus empregados. Quando se consagrou à vida religiosa, não se esqueceu de nenhum deles. Cada um recebeu seu quinhão.

Iniciou-se no comércio com uma loja de miudezas, o que se chama de armarinho. Deu à lojinha o nome de Korin-do, Casa de Korin, em honra ao grande pintor japonês Korin Ogata que ele muito admirava. Korin viveu no Japão de 1658 a 1716, quando morreu. Foi o pintor preferido por Meishu Sama e seu inspirador nos cenários de seus jardins.

Mokiti progrediu no comércio, pois era muito trabalhador, mas não gostava de lidar com miudezas. A variedade dos artigos cansava-lhe a mente. Chegou a adoecer com uma lipotimia cerebral. Tratou-se pela acupuntura, a terapia chinesa com agulhas. Consolidou a cura com longas caminhadas a pé.

Naquele tempo, quando começou sua lojinha, Mokiti levantava bem cedo e ia varrer a rua defronte à casa, antes que aparecesse gente. Ele mesmo limpava a loja. Sozinho, realizava os serviços de patrão, caixeiro e servente. Seus fregueses, pobres ou ricos, eram tratados com a mesma consideração e gentileza. Logo teve uma grande freguesia.

Os parentes, como sempre, vieram dar-lhe conselhos. Sugeriram que o negociante não pode ser muito rigoroso na honestidade, se quiser progredir. Meishu Sama, porém, não abandonou o princípio de integridade absoluta e cortesia igual para com os humildes que vinham comprar um carretel de linha e para com os ricos que compravam bastante.

E deu certo! Em Tóquio havia uma enorme loja chamada Mitsukoshi. Um dia, o gerente veio conversar com Meishu Sama, dizendo:

- Fui recentemente indicado para dirigir a loja. Não entendo de miudezas. Vim pedir-lhe o favor de me ensinar o que sabe sobre este assunto.

Ao que Meishu Sama respondeu:

- Não me considero autoridade no assunto, mas com todo o prazer lhe ensinarei o que aprendi.

E ensinou mesmo! Deu informações detalhadas sobre os artigos e sobre outras lojas de armarinho, falando sobre as especializações de cada uma. Nem por um instante, Meishu Sama viu no gerente um concorrente que poderia prejudicá-lo em suas vendas.

O homem ficou muito grato. Dias depois voltou para dizer:

- O senhor é um comerciante diferente dos outros. Não procurou tirar vantagem e, além disso, não atacou nenhum de seus concorrentes Fiquei muito impressionado por sua sinceridade e correção. Minha firma quer fazer negócios com o senhor.

Meishu Sama recusou a oferta, mas o homem insistiu tanto que acabou aceitando. Fez um contrato com a poderosa Mitsukoshi. Desta forma, a lojinha de miudezas passou a loja atacadista. Teve um sucesso absoluto.

Quando a lojinha passou à loja atacadista, Meishu Sama contratou seu primeiro empregado. Deu-lhe um ordenado bem superior ao que outros comerciantes pagavam e, além disso, deu-lhe porcentagem nas vendas. Esta generosidade foi recompensada pela dedicação e lealdade de seu auxiliar.

Teve depois vários empregados e ganhou muito dinheiro. Jamais se prevaleceu de suas vantagens. Os empregados melhoravam de vida à proporção que os negócios iam melhorando. Pelo vestuário e situação de vida, ninguém poderia distinguir o patrão dos empregados.

Meishu Sama teve um empregado chamado Nagashima que trabalhou para ele durante muitos anos. Mais tarde, Nagashima estabeleceu-se por conta própria. Foi sempre muito grato a Meishu Sama e, mesmo depois de rico, comprazia-se em recordar o tempo em que foi caixeiro.

Nagashima dizia sempre:

- Meishu Sama impressionava a gente desde o primeiro contato. Tinha uma dignidade que inspirava respeito, mas era sempre muito amável. Sua personalidade irradiava, ao mesmo tempo, firmeza e amor. Perto dele, a gente sentia segurança. Sabia recompensar seus empregados de acordo com o merecimento de cada um. Era um patrão diferente dos outros. Era muito mais avançado, muito exigente e meticuloso, mas fazia com que a gente tivesse prazer em obedecê-lo.

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