3 – NÃO PUDE DESCANSAR UM DIA SEQUER

Morimoto: Em Atami, depois que o Sr. K foi embora, passei a receber as ordens de serviço diretamente. Assim, pude trabalhar com mais liberdade. Entretanto, embora pensasse em descansar, não podia fazê-lo nem um dia sequer. Se descansasse, outra pessoa receberia as ordens no meu lugar. Então, não se entenderia nem se transmitiria o sentimento de Meishu-Sama. Isso porque as pessoas comuns apenas ouvem e dizem: “Sim, compreendi”. Ora, ouvindo apenas, não se entendia nada do que Meishu-Sama dizia, pois suas palavras eram poucas e Ele não dava explicações detalhadas. Era por esse motivo que eu não descansava. Sabia com que pensamento Meishu-Sama dava as ordens e, para entendê-las mais concretamente, pedia-Lhe que desse ordens mais pormenorizadas.

Por exemplo: como eu não soubesse com que altura deveria fazer o monte do Jardim das Ameixeiras, e o terreno fosse um vale cheio de altos e baixos, disse a Meishu-Sama: “Gostaria que esperasse um pouco; vou colocar a demarcação”. Então, coloquei paus em todo o terreno e estiquei uma corda. Procedendo assim, recebi orientação concreta para levantar ou abaixar mais. Apenas ouvindo a explicação de Meishu-Sama - “Faça assim” - não se conseguia entender a Sua vontade. Mais tarde, infalivelmente, apareciam coisas que precisavam ser refeitas.

Repórter: Comumente, embora não estejamos satisfeitos, respondemos “sim”, mas é importante insistirmos na pergunta até ficarmos convencidos, como o senhor fazia. Entretanto, isso também exige coragem, não é?

Morimoto: Como Meishu-Sama quebrava o senso comum tradicional e construía jardins baseados num novo conceito de beleza, ninguém compreendia nada. Por isso, apenas ouvindo- O e respondendo “sim, senhor”, embora não tivéssemos entendido o que Ele dizia, não era possível compreender plenamente Sua vontade, nem Suas palavras. Talvez, Meishu-Sama tenha pensado que eu fosse meio ignorante, mas eu não me importava com o que Ele pensasse, e por isso Lhe fazia perguntas até entender o que Ele queria. Não só na construção do Jardim das Ameixeiras, como também da Colina das Azaleias, a que me referi há pouco, utilizamos caminhões para jogar terra naquele lugar tão amplo, e, assim, as depressões foram aterradas, mudando muito a topografia do terreno. Era um trabalho realmente árduo, no qual eu estava seriamente empenhado. Por isso, quando Meishu-Sama dava alguma ordem, eu sempre Lhe pedia para esperar um pouco, e colocava bambus e esticava cordas.

Repórter: O senhor devia ficar muito preocupado quando pedia que Meishu-Sama esperasse, não é?

Morimoto: De fato. Mas, como eu estava trabalhando com seriedade, mesmo que Ele me cobrasse o serviço, perguntando se ainda faltava muito, eu dizia; “Sim senhor, ainda falta um pouco”. E, acabando de esticar a corda, pedia para que Ele olhasse.

Fossem quais fossem as reclamações de Meishu-Sama, dissesse Ele o que dissesse, e por mais carrancuda que se mostrasse a sua fisionomia, eu insistia em que Ele detalhasse Seus planos: “É para fazer desta ou daquela maneira?” Só depois de satisfeito eu agia.

Repórter: A julgar pelo que o senhor está dizendo, parece-me que, todos os dias, era uma luta séria, não?

Morimoto: Além disso, quando me dava as ordens, Meishu-Sama me fitava bem nos olhos, e por isso eu ficava com medo. Deve ter acontecido o mesmo com o Sr. Katsumata, mas eu trabalhava com o sentimento de que, estando ou não ali, Meishu-Sama sempre me observava. Se eu não trabalhasse com esse sentimento, não teria conseguido realizar aquela obra. Talvez por isso Meishu-Sama colocou-a sob a minha responsabilidade.

Katsumata: Comigo aconteceu a mesma coisa. Nunca me veio ao pensamento que era desnecessário fazer tal coisa porque Meishu-Sama estava longe, ou que devia fazê-la porque Ele estava perto.

Morimoto: Até a uma pessoa como eu, Meishu-Sama sempre se dirigia assim: “Sr. Morimoto, venha aqui um instante...” Ele dava ordens chamando-me de “senhor”. Entretanto, nunca me disse palavras de elogio pelo que eu houvesse feito. Parece que me elogiava por trás, mas, diretamente, jamais falou que eu me saí bem numa tarefa. Quando ficava pronto um trabalho, como, por exemplo, um serviço no Jardim das Ameixeiras, eu dizia para Meishu-Sama apenas isto: “Está terminado”. Aí Ele respondia: “Hum...” como se o som saísse de dentro do abdome. Dando uma volta e encontrando uma árvore plantada, acrescentava: “Hum... plantou uma árvore aqui...” “Sim, plantei”, dizia eu. Ao ver outro lugar que já estava pronto, retrucava: “Hum... fez aqui também...” E eu: “Sim, fiz”. A conversa se limitava a essas palavras. Nem Meishu-Sama nem eu entrávamos em pormenores. No começo, eu pedia que Ele examinasse o trabalho, dizendo: “Fiz de acordo com as Suas orientações. O que é que o Senhor acha?” Mas, logo da primeira vez que eu disse isso, Ele me desaprovou: “Não está bom; faça-o de novo”.

Todas as vezes que Ele falava assim, eu ficava nervoso, pois achava que havia seguido as ordens recebidas. Entretanto, à medida que entendia a Vontade de Meishu-Sama, vi que Ele agia dessa forma porque eu fazia as coisas sem ter convicção, e concluí que não poderia continuar assim. Era preciso que eu fizesse o trabalho com seriedade e firmeza, de acordo com as instruções.

Depois de ter compreendido que, se o trabalho não estivesse bom, Meishu-Sama o diria, limitava-me a falar: “Ficou pronto”. Ele apenas comentava: “Ah! É?”, e examinava o serviço. Portanto, mesmo quando eu plantava uma árvore, era só dizer: “Está plantada”. Não era preciso usar de palavras para saber o que Ele achava; ficando calado, Meishu-Sama expressava a Sua aprovação.

Repórter: Aliás, eu acho que nesse tipo de conversa é que vemos a verdadeira postura da fé.

Morimoto: Na ocasião em que ia ter início a construção da Colina das Azaleias, abaixo do Palácio de Cristal, recebi a seguinte instrução: “Construa de maneira que, de todos os lados, ela seja vista com o formato redondo”. Acontece, porém, que, em cima, haveria um prédio, não é verdade? Sendo assim, tive de fazer um grande sacrifício para deixá-la arredondada, levando mais ou menos um ano para terminá-la.

Durante todo o período daquela construção, Meishu-Sama vinha vê-la diariamente e ficava apreciando-a. No dia em que ela ficou pronta, comuniquei-Lhe: “Ficou pronta hoje”. Aí Ele disse: “Ah! É?” Sozinho, deu uma volta ao redor da colina e foi embora sem dizer nada. Então eu pensei: “Puxa, isso mostra que o meu trabalho foi aprovado!”

Repórter: Em suma, os sentimentos de Meishu-Sama não se expressavam por meio de palavras, mas sentíamos profundamente que Ele nos transmitia a Sua aprovação. O Mundo ideal a que Meishu-Sama se referiu certamente será um mundo em que as pessoas se farão entender através da percepção, empregando o mínimo de palavras.