INDO A EXPOSIÇÕES (II)

A Exposição Nikka-kai, que vi a seguir, me deixou pasmado. Meu cérebro ficou revirado, com ódio, pessimismo e confusão. Não estão eles em busca da Beleza. Beleza ou coisa que lhe valha, são-lhes desconhecidas. Só vi a feiura. Só o ato de ver já me foi penoso. Que fiz eu para sair de tão longe, com este calor, e sofrer? É o maior absurdo do mundo que alguém passe por raiva ao ver pinturas. Cheguei mesmo a pensar que melhor seria eu jamais ter ido àquele lugar. Para ser franco, aquilo nunca foi pintura. Não vi beleza nem arte alguma. O que havia eram apenas objetos planos, muitíssimo monstruosos. Usualmente, a tela é a expressão da Natureza. Não é nada mais nada menos que o ato de tornar mais bela e atraente a beleza natural, por intermédio da arte. Nus semelhantes a cadáveres, multidões parecidas com fantasmas. Era o retrato do próprio inferno. E não parava nisso: cruzamentos de linhas geométricas e o louco bailar de cores berrantes. Que desfaçatez em expor com orgulho tanta aberração, como se fosse pintura! Eu não posso deixar de lamentar o desperdício de tintas e telas. Tentei entender o estranho estado psicológico desses artistas, mas não me foi possível. Minha mente começou por ficar irritada. Pensei até que tal arte consistia num tipo de crime. Minha cabeça ficou esquisita. Não mais aguentei continuar vendo aquilo. Deixei o recinto. Senti-me aliviado ao olhar para o céu azul de começo de outono de Ueno. Senti-me como que salvo. Meditei profundamente sobre a Pintura a óleo moderna que acabara de ver. Trata-se de um abuso. Entrou-se por um meandro e ainda não se deu conta disso. Buscou-se, demasiadamente, um novo senso. São doentes graves do sadismo estético. É uma moléstia que começou a ser disseminada por Picasso da França. Mesmo eu não deixo de compreender um Matisse, um Rouault, ou um Bonnard. Em se tratando de Picasso, contudo, eu sou um verdadeiro leigo. Terminaram nesse estado por terem tido sua alma inteiramente dominada pela expressão da personalidade. São fantasmas da sua personalidade. Em outras palavras, são almas penadas do subjetivismo. Almas penadas do subjetivismo não são apenas os pintores de hoje. Vagam elas por toda a parte, mas os pintores, em especial, são as de mais difícil trato. Pelos meus humildes estudos, os chamados grandes mestres e artistas de renome da época que se estende, na China, desde a dinastia Sung e, no Japão, a partir da era Ashikaga, até os dias de hoje, jamais, sem exceção, se desviaram do objetivismo. Seu rigoroso subjetivismo esteve envolvido pelo objetivismo. Exemplificando, o subjetivismo seria o esqueleto, no caso do homem. Por envolverem a carne e a pele aos ossos é que há a beleza do objetivismo. Todavia, a Pintura a óleo de hoje é destituída da pele e da carne. O que há são ossos expostos. Não existe Beleza nem Arte. Caso persistam nessa sua cegueira, eles acabarão por se arruinar. Por estar ciente de tal fato é que lhes apresento meu conselho amargo.

No caminho de volta para casa, vi a Exposição Seiryu. Fazendo jus ao título de Padroeira da Arte de Ambiente, de fato, nela se dispunham, apertadamente, telas imensas. Eximindo-me de contemporizações, a impressão que tive foi de um marasmo geral, não havendo indício algum de progresso. Sintetizando, tudo era por demais ruidoso. Era verborragia. Um "jazz" de cores. Algo que simplesmente causava vertigens. Todos os quadros haviam sido exageradamente pintados. Depois de vê-los, não se apreciava um sentimento parecido com a ressonância, tampouco inspiravam serenidade. Eram de um exibicionismo maníaco. Reconheço que a excentricidade também tenha seu lugar. Compreendo a intenção de se querer extrair a beleza daquilo que passa desapercebido. Todavia, se tal atitude venha a ignorar as regras da pintura, não tem sentido. A agonia de tentar transformar em pintura o que a ela não se adéqua, não pode deixar de irritar o apreciador. O incêndio do pavilhão Kinkaku-ji, de autoria de Ryushi, é passável. Peço vênia, no entanto, para lhe dar um conselho. A condição absoluta da pintura é a nobreza. É a sua dignidade. Vendo a Exposição Seiryu, não pude evitar a sensação de que nela faltava tal atributo. Ela está ainda por demais apegada à arte de ambiente. O que é isso senão uma heresia? Caso se queira proporcionar satisfação ao ser humano por meio da Beleza, é impossível desviar-se da decoração de interiores. A arte que não dá prazer, exceto em exposições, perde metade de seu valor como tal. É o fantasma do apego. Indo mais além, diríamos que não é outra coisa senão um capricho do artista. Foi por pensar em você que me permiti falar duramente, sem acanhamento.

Em suma, desejo dizer a vocês, pintores, que a sua atividade se defronta com um muro, sem encontrar saída. Enquanto não ultrapassarem essa parede, a única coisa que os espera é o horrível fado da autodestruição. Em especial, digo a vocês, pintores do estilo ocidental, que é vergonhoso querer atrair o público com o tamanho das telas, o peso das pedras ou a dança. O que seria tal atitude senão o gemido do artista que sofreu boicote por parte do ser humano?

Jornal Eiko, nº 71 — 27 de setembro de 1950

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