CAPÍTULO 3 – O MAL E OS ESPÍRITOS PROTETORES

Como vimos no capítulo anterior, embora o Mal, até agora necessário, se tenha tornado desnecessário, não é fácil expulsá-lo. No Plano de Deus concernente a esse ponto, há algo de muito sutil e delicado. Isto será pouco a pouco explicado. Antes, porém, é preciso conhecer a constituição do cosmos.

No centro do Universo há três massas flutuantes: Sol, Lua e Terra. Examinemos os elementos básicos dessas três massas. O elemento do Sol é kasso (espírito do fogo); o da Lua é suisso (espírito da água) e o da Terra é dosso (espírito da terra). Cada um desses três elementos tem as suas peculiaridades e manifesta os seus instintos. Duas energias – as de kasso e suisso – unem-se para formar a atmosfera que circunda o globo terrestre, mantendo o nascimento e crescimento de todas as coisas.

Tudo o que está sobre o globo terrestre dividi-se em yang e yin. O espírito do fogo é yang. O espírito da água é yin. O fogo queima verticalmente e a água flui horizontalmente. Essas correntes verticais e horizontais entretecem-se quais fios de uma urdidura em movimento. Assim entrecruzados, os raios, constituídos de partículas ultradiminutas, elevam-se até certa altura sobre o globo terrestre, formando as camadas de ar e a atmosfera. A essência de yang e de yin materializa-se sob forma de fogo e água, calor e frio, dia e noite, claridade e trevas, espírito e corpo, homem e mulher, etc. Divididos em Bem e Mal, yang é espírito e Bem; yin é corpo e Mal. Nesse sentido, o Bem e o Mal estão em contraposição. Tal é o aspecto básico da Grande Natureza.

Esse princípio pode ser compreendido observando-se o ser humano, que é estruturalmente composto de dois elementos: corpo físico visível e espírito invisível. A relação entre o físico e o espírito é uma união inseparável. A vida humana é sustentada pela energia vital nascida da união de ambos. Isto, contudo, obedece a uma lei claramente demonstrada pelos fatos: o espírito é primário e a matéria é secundária. Quando surge uma vontade na mente, que é o centro do espírito do ser humano, ela ordena ao corpo que passe à ação. O espírito, portanto, é a essência do homem e o seu regente.

Mas por que o espírito excita maus pensamentos? Como este é o ponto focal, será minuciosamente examinado. A explanação, porém, terá de ser necessariamente religiosa e é com essa intenção que deve ser lida, porque o problema do Bem e do Mal é um problema da mente[1].

Chegamos, assim, ao ponto essencial. Sendo o ser humano constituído de espírito e matéria, a ciência que toma como objeto de estudo apenas o corpo físico é uma ciência claudicante, por maiores que sejam os seus progressos. E é claro que, assim, não poderá nascer uma verdadeira ciência. O nosso lado, ao contrário, formou-se com base na relação entre ambos, espírito e matéria. E o que é isto se não a verdadeira ciência? Como já vimos, o Bem e o Mal têm sua causa na mente, isto é, no espírito. Se a explanação aqui desenvolvida for cuidadosamente examinada, isto poderá ser compreendido desde o princípio, contanto que se aceite como verdade a Lei da Precedência do Espírito sobre a Matéria.

A concepção, como se sabe, é a gênese do ser humano. Sob o ponto de vista material, é um espermatozoide masculino que salta para um óvulo feminino e o fecunda. Em termos espirituais, é uma partícula divina que se instala, tornando-se uma alma. Quando, completadas as luas, esta alma nasce, outras duas almas se aproximam, estabelecendo-se assim uma ligação entre as três. Uma destas duas almas é o chamado espírito secundário. Trata-se de um espírito animal, que geralmente penetra na criança aos dois ou três anos de idade. A outra é o chamado espírito guardião, que não se encosta diretamente, mas sempre acompanha o indivíduo de perto, com a função de protegê-lo. Esses dois espíritos não se afastarão durante todo o curso da existência. Pode-se dizer, portanto, que o ser humano é um corpo resultante da cooperação de três.

A primeira alma a instalar-se, o chamado espírito primário, é intrinsecamente divino e é a consciência. Eis por que se dizia, na Antiguidade, que o homem é bom por natureza. O espírito secundário, ao contrário, é intrinsecamente mau e combate incessantemente o bem do espírito primário. Eis um fato que qualquer pessoa pode saber, se olhar para dentro de si mesma. O terceiro espírito, ou seja, o guardião[2], foi escolhido entre as almas dos antepassados. Sempre acompanhando o indivíduo de perto, sua missão é protegê-lo de tudo o que possa conduzi-lo à infelicidade: acidentes, perigos, doenças, má conduta, preguiça, depravação, etc. A ele também se devem os pressentimentos, sonhos premonitórios, impedimentos, desencontros e atrasos. Como, por exemplo, quando, pelo fato de perder um trem, uma pessoa escapa de um perigo. Ou quando algum incidente a impede de entrar em contato com algo nocivo.

Entre o espírito primário e o espírito secundário trava-se uma constante batalha. Quando triunfa o primeiro, o Bem é praticado. Quando triunfa o segundo, o Mal é cometido. O ser humano está entre Deus e o animal. Quando se eleva, torna-se divino; quando decai, assemelha-se a um animal. Disto o mundo nos oferece claros exemplos.

Que espécie de espírito se torna um espírito secundário? Nos homens japoneses, são principalmente os espíritos desencarnados de serpentes, texugos, cavalos, cachorros e aves, além de outros. Nas mulheres japonesas, são geralmente os espíritos desencarnados de raposas, cobras, gatos, aves e outros. Além do espírito secundário, outros espíritos podem encostar-se temporariamente. O homem moderno não acredita em tais coisas, que lhe parecem ridículas. Trata-se, contudo, da pura verdade e ele só não consegue aceitá-la por causa da superstição materialista. Eliminada a superstição, compreenderia imediatamente. O ser humano expressa, sobretudo, as características do espírito animal que o acompanha. Basta um olhar atento para percebê-lo. Os espíritos que se encostam temporariamente também são, quase sempre, de animais. Algumas vezes, entretanto, o indivíduo é possuído pelo espírito desencarnado de outro ser humano e, mais raramente, pelo espírito de uma pessoa viva.

Mas por que esses espíritos se encostam temporariamente? Isto se deve à impureza do espírito da própria pessoa. Quanto mais densas as suas nuvens, mais facilmente ela fica sujeita ao encosto. O espírito secundário torna-se então mais forte e o indivíduo, infalivelmente, passa a praticar o Mal. Hoje em dia, como a maioria das pessoas está carregada de nuvens espirituais, os espíritos malignos encontram muita facilidade para encostar-se e atuar, o que aumenta a incidência de crimes. O homem de fé em Deus, ao contrário, tem poucas nuvens. Quem gosta de praticar o Bem tem a alma pura e é mais forte para dominar o espírito maligno. Vemos, assim, a importância da fé. Aquele que não tem fé, ainda que pareça ser boa pessoa, está normalmente sujeito, a qualquer momento, à possessão por um espírito maligno. Por isso, pode-se dizer que, até certo ponto, é um indivíduo perigoso. Conseqüentemente, para criar uma sociedade melhor, não há outro meio se não aumentar o número dos possuidores de almas puras.

Originalmente, a alma é uma espécie de corpo luminoso cuja luz é muito temida pelos espíritos animais. Hoje em dia, porém, quase todas as pessoas têm a alma nublada, o que facilita a penetração do espírito animal visitante. Como o ser humano é imediatamente manipulado por esses espíritos, é natural que, no estado social vigente, os demônios andem à solta. As autoridades, cegas para estas coisas, procuram cercear o Mal somente por meio de leis e sanções penais. Como essas medidas estão totalmente desviadas do ponto focal, não podem ser eficazes, pois não passam de meros paliativos. No Congresso Nacional do Japão, entretanto, persiste-se nessa lamentável insensatez, pois quase todos os projetos de lei apresentados não passam de emendas e complementos a leis já vigorantes. Mas, uma vez compreendido o sentido geral do Mal, torna-se claro que não há outra maneira de solucionar radicalmente a questão, a não ser por meio da fé.

Não basta, contudo, simplesmente ter fé. As divindades cultuadas pelas várias religiões dividem-se em três classes – superior, média e inferior – num total de 181 graus. Ao mesmo tempo, há divindades justas e divindades malignas, sendo muito difícil distinguir entre umas e outras. Há pessoas que, a despeito de sua ardente fé e devoção, não recebem graças. Suas enfermidades não são curadas e sua conduta não é muito recomendável. Isto porque o poder da divindade que adoram é muito fraco para impedir a atuação das divindades malignas. O problema é que o mundo, ao observar estes casos, rotula tais crenças de baixa superstição e julga que todas as religiões, mesmo as justas, são iguais às outras.

Na Antiguidade, os homens, de modo geral, consideravam sublimes todos os deuses, sem saber que existem diferenças entre eles. Isto foi muito perigoso. Até agora, as divindades, mesmo quando justas, foram de nível secundário. Seu poder era fraco na luta entre o justo e o injusto, razão por que o Mal temporariamente triunfava. E os homens, ao observarem esse triunfo, adoraram o Mal e tentaram imitá-lo. Esta tem sido especialmente a tendência dos mais ambiciosos e capacitados. A História registrou a passagem de muitos desses heróis e grandes homens. Temporariamente, foram bem sucedidos, mas todos, sem exceção, acabaram malogrando. Observando-os sob o ponto de vista espiritual, vemos que foram todos possuídos por uma grande entidade do reino demoníaco. O interessante é que, de início, tudo lhes corre bem, mas, a um certo ponto, infalivelmente malogram. O espírito encostado então se afasta imediatamente. O Kaiser, Mussolini e Hitler constituem exemplos relevantes. Após o malogro, ficaram como que abobalhados, parecendo outra pessoa. Isto sempre acontece após o afastamento de um grande espírito diabólico.

Por incrível que pareça, o chefe do reino diabólico elaborou, há mais de dois mil anos, planos terrivelmente minuciosos e duradouros para dominar o mundo, e até hoje prossegue com suas manobras secretas. Mas tem sido combatido pelas divindades da linha de Cristo, Sakyamuni, Maomé e Kunitokotati-no-Mikoto[3].

O Supremo Deus fez progredir a cultura mediante o confronto entre as divindades justas e os jashin[4]. Em conseqüência, os jashin chegaram a dominar até 99 por cento (kobukurin) do mundo. Agora, manifestando finalmente o poder do itchirin (0,01), o Supremo Deus inverterá de uma vez o grande plano dos jashin. Esta é a luta entre o kobukurin e o itchirin[5], da qual estamos a apenas um passo. Quem compreender esta verdade, não deixará de despertar plenamente.

 

[1] Kokoro no original, que significa mente, coração, espírito.

[2] No original japonês, os três espíritos são chamados de guardiões por Meishu-Sama, que a eles se refere como espírito guardião primário, espírito guardião secundário e espírito guardião principal. Para simplificar e evitar confusões, preferimos, nesta tradução, chamar de guardião somente ao espírito protetor propriamente dito, que corresponderia ao anjo da guarda, no cristianismo.

[3] Kunitokotati- no-Mikoto: considerado o Criador do mundo no xintoísmo.

[4] Jashin: divindade maligna, demônio, diabo, falso deus.

[5] Consulte o Adendo para uma explicação sobre kobukurin e itchirin (a ser publicado em breve).

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